Diversas famílias têm me perguntado qual seria a melhor forma de terapia ocupacional para suas crianças com NF1. Tenho sugerido a terapia de integração sensorial, embora ainda não tenha sido realizado um estudo científico para responder exatamente se esta forma de terapia é eficiente nas crianças com NF1 e se é mais eficiente do que outras formas de tratamento.

Em outras palavras, é apenas minha opinião baseada na experiência clínica de algumas famílias que realizaram esta forma de tratamento e obtiveram melhora no quadro cognitivo e comportamental das suas crianças com NF1.

Então, para responder o que é este tipo de tratamento, pedi à terapeuta ocupacional Caroline Machado Barini que escrevesse um texto para este blog sobre este tema. A resposta dela segue abaixo e fico muito grato pela sua colaboração.

A imagem acima é da Clínica Ludens de Terapia Ocupacional, em Campinas, SP.

Terapia de Integração Sensorial

“Todos nós, seres humanos, percebemos o meio em que vivemos através dos nossos sentidos, sendo eles a visão, a audição, o tato, o olfato e o paladar, assim como também recebemos estímulos sensoriais por meio de alguns sistemas, sendo os principais deles o sistema vestibular e o proprioceptivo.

O sistema vestibular está localizado em nosso ouvido interno e é responsável pela manutenção do equilíbrio. Já o sistema proprioceptivo possibilita que as pessoas percebam a localização, posição e orientação de seu corpo no espaço, sem o auxílio da visão.

Muitas vezes em nosso dia a dia, realizamos uma ou mais ocupações diárias e acionamos alguns destes sentidos sem prestarmos atenção no quanto uma tarefa aparentemente simples pode exigir um processamento sensorial complexo.

Vou dar um exemplo: enquanto carregamos as compras do supermercado e nos aproximamos da porta de casa, é necessário que alcancemos a chave, muitas vezes guardada em uma bolsa ou no bolso da calça. Estamos acionando o tato para carregarmos as sacolas, a visão para aproximarmos da casa, o sistema vestibular enquanto andamos e o proprioceptivo para pegarmos a chave sem o auxílio da visão.

Em determinadas situações, nosso cérebro pode ficar confuso ao tentar assimilar vários estímulos de uma vez só, o que caracterizaria em uma dificuldade no processamento sensorial. Darei um exemplo disso e alguns poderão se identificar: quando lemos algum texto com o carro em movimento, é comum que muitas pessoas sintam mal-estar e enjoo. Isso acontece porque a visão está sendo acionada para a leitura, ao mesmo tempo em que o ouvido percebe os ruídos ao redor enquanto o carro está andando e acionando o sistema vestibular. No entanto, quando isso acontece, a pessoa interrompe a leitura, respira fundo e em alguns minutos o mal-estar desaparece. Como isso não interfere na vida da pessoa e ela consegue seguir normalmente com seus afazeres diários, não caracterizamos como um transtorno do processamento sensorial, apenas houve uma dificuldade momentânea.

Por outro lado, há situações em que algumas crianças não conseguem assimilar os diferentes estímulos sensoriais do ambiente e encontram dificuldades em manter sua atenção na escola, apresentam comportamento agitado, não aceitam o toque de uma outra pessoa e agem com agressividade, ou então não percebem o toque e não desviam sua atenção, podendo ser um sinal de que essa grande dificuldade em assimilar diferentes estímulos seja caracterizada como um possível quadro de transtorno do processamento sensorial, já que observa-se impacto significativo de seu desempenho em suas ocupações diárias.

Quando há um diagnóstico estabelecido pela equipe médica e foi identificado algum tipo de transtorno do processamento sensorial, a Terapia da Integração Sensorial é indicada, uma vez que seu objetivo é de organizar essas sensações para o uso no dia a dia.

A Terapia da Integração Sensorial foi desenvolvida pela Terapeuta Ocupacional Anna Jean Ayres, que iniciou seus estudos nesta área na década de 50. Ela descreve a Integração sensorial como “o processo neurológico que organiza as sensações do próprio corpo e do ambiente fazendo com que seja possível o uso do corpo efetivamente no ambiente”.

Desse modo, a Integração Sensorial providencia as informações necessárias para aparelhar o corpo e a mente, uma vez que une todas as nossas sensações, dá sentido a elas e é através das experiências e da interação com o mundo que as crianças se desenvolvem sensorialmente e amadurecem.

Os objetivos gerais do Terapeuta Ocupacional com formação em Integração Sensorial são: prover experiências sensoriais, auxiliar a criança na inibição e/ou modulação da informação sensorial; organizar a criança no processamento de respostas mais adequadas aos estímulos sensoriais; e promover oportunidades para o desenvolvimento de respostas adaptativas cada vez mais complexas, possibilitando que a criança tenha uma participação plena em suas atividades de vida diária.

Sendo assim, os procedimentos de Integração Sensorial são delineados para alcançar as funções sensoriais e motoras que ajudam a criança a aprender novas habilidades mais facilmente, incorporando necessariamente o interesse e motivação da criança, de modo que o Terapeuta Ocupacional desenvolve a intervenção num contexto de brincadeiras, que envolve cuidadosa seleção das experiências sensoriais (toque, movimento, sensações musculares e articulares), planejada individualmente para cada criança, com desafios, encorajamento, empatia, motivação e que conduzam a organização da criança e, portanto, de seu sistema nervoso.

A Terapia de Integração Sensorial bem aplicada, por um Terapeuta Ocupacional com treinamento específico nessa área, pode ser combinada com outras abordagens e contribuir muito para um desenvolvimento mais amplo da criança, possibilitando o resgate de seus papéis e das atividades que lhe são próprias, sem haver desgaste ou sofrimento ao interagirem com o seu meio e com as pessoas de seu convívio.”

Caroline Machado Barini

Terapeuta Ocupacional