Tema 319 – Novidades do congresso – Parte 5: Dor e NF


A dor crônica, forte e de difícil tratamento pode ser uma das complicações das neurofibromatoses (ver  AQUI post anterior), entre elas a Schwannomatose, cuja principal característica é a presença de múltiplos tumores periféricos (schwannomas) acompanhados de dor neuropática de difícil tratamento (ver abaixo a Tabela com os medicamentos atualmente disponíveis para o tratamento da dor nas NF).

No último Congresso sobre NF, realizado em Washington em 2017, o Dr. Steven Matsumoto, da Universidade Central da Flórida nos Estados Unidos, apresentou os resultados de seus estudos sobre os mecanismos da dor na Schwannomatose, os quais podem abrir um novo caminho no tratamento desta grave complicação.

Traduzi e adaptei para este blog o trabalho apresentado.

Um grande número de pessoas com Schwannomatose apresenta dor intratável. Esta dor pode ocorrer na ausência de um tumor visível e nem sempre é aliviada pela retirada de um tumor encontrado.

Este achado clínico indica que a dor que afeta as pessoas com Schwannomatose não está estritamente relacionada ao crescimento dos tumores e nem à compressão mecânica de nervos pelos schwannomas.

Uma proporção das pessoas com Schwannomatose apresenta mutações no gene SMARCB1 (também chamado de gene INI1, BAF47 ou SNF5). Neste estudo, os autores conseguiram induzir uma mutação no gene SMARCB1 das células de camundongos, mutação esta que não causa alterações na anatomia, nem no crescimento e funcionamento das células nervosas dos nervos periféricos.

No entanto, os camundongos com esta mutação apresentam maior sensibilidade à dor, ou seja, ou seja, um determinado estímulo doloroso é percebido como mais forte por estes animais.

Os pesquisadores perceberam que as células dos gânglios dorsais dos nervos sensitivos destes camundongos geneticamente modificados apresentam maior quantidade de canais de cátions e íons, chamados TRPV1, os quais podem ser ativados por diversos estímulos dolorosos, inclusive a capsaicina, um agente químico encontrado nas pimentas.

Além disso, perceberam que estas células nervosas geneticamente modificadas também apresentaram maior expressão de outro gene envolvido na dor, o gene do peptídeo relacionado à calcitonina.

Finalmente, o metabolismo do cobalto foi alterado pela mutação do gene SMARCB1, o que indica maior atividade dos mecanismos da dor nestas células.

Todas estas alterações foram também encontradas na análise histoquímica em culturas de células retiradas de tumores de pessoas com Schwannomatose.

Em conclusão, o conjunto de dados obtidos neste estudo com camundongos sugere que o mecanismo da dor na Schwannomatose seja dependente de um fator ou de fatores secretados pelas células de Schwann, que induzem a expressão de mediadores da dor nos neurônios sensitivos.

Este estudo abre um novo olhar para o tratamento da dor na Schwannomatose (e talvez também para as outras formas de NF), pois nos alerta para a possibilidade de a dor existir sem tumores ou compressões visíveis, o que necessita de uma abordagem mais ampla e medicamentosa do que exclusivamente cirúrgica.

Veja mais informações sobre a dor nas neurofibromatoses:
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