Trofeu Mônica Bueno

É um simbolo do agradecimento da AMANF às pessoas que tem contribuído para o conhecimento científico das neurofibromatoses, para o atendimento médico e para o acolhimento das pessoas acometidas pelas neurofibromatoses.

O Troféu Mônica Bueno recebeu seu nome em homenagem e em memória da senhora Mônica Bueno, fundadora da Associação Mineira de Apoio aos Portadores de Neurofibromatoses (AMANF).

O Troféu Mônica Bueno foi criado em 2012 pela AMANF, com a colaboração artística do Dr. Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues (LOR).

O Troféu Mônica Bueno foi entregue pela primeira vez em 2012 aos médicos Ivo Pitanguy e Mauro Geller, e o valor da contribuição pessoal de cada um deles à causa das neurofibromatoses servirá de balizamento para os anos seguintes. Doutor Ivo e Doutor Mauro constituem exemplos dignificantes para que os futuros agraciados com o troféu Monica Bueno venham a ser verdadeiros expoentes na tarefa de ajudar os portadores daquelas doenças.

 

Homenageado 2012 

Dr. Mauro Geller (Rio de Janeiro) http://lattes.cnpq.br/1616947842612843

Possui graduação em Medicina (1978), mestrado em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis (1991), doutorado em Clínica Médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2005) e pós-doutorado em Imunogenética pela Harvard University (2006). Atualmente é integrante permanente da comissão de pesquisa do Hospital da Polícia Militar, professor titular de Imunologia e Microbiologia da UNIFESO, coordenador da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Professor Titular de Pós-Graduação em Imunologia Clínica – Especialização do Instituto de Pós-Graduação Médica Carlos Chagas. Tem experiência na área de Imunologia Clínica, com ênfase em Imunologia e Imunogenética, atuando principalmente nos seguintes temas: clínica, imunologia tumoral, genética, e imunodiagnóstico. Coordenador do Setor de Facomatose do Serviço de Genética Clínica da IPPMG da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Doutor Mauro é um dos fundadores do Centro Nacional de Neurofibromatose (Rio de Janeiro) e seu diretor clínico, além de ser membro do Comitê Diretor da Fundação Nacional de Neurofibromatoses dos Estados Unidos. Publicou 6 livros e 9 capítulos de livros, dentre os quais o pioneiro “Neurofibromatose: Clínica, Genética e Terapêutica” de 2004 e em 2012 o “Advances in neurofibromatosis research”, editado em conjunto com a Dra. Karin Soares Gonçalves Cunha.

Doutor Mauro recebeu diversos e importantes Prêmios: Certificado de Reconhecimento no Clube de Dirigentes (1992), o Prêmio por Serviços Públicos (1996) e o Diploma de Liderança Honorária (1997), todos concedidos pela Fundação Nacional de Neurofibromatoses dos Estados Unidos. Destaco também o Título de Benemérito do Estado do Rio de Janeiro concedido pela Assembleia Legislativa em 1994.

Doutor Mauro Geller produziu, até o momento, cerca de 180 artigos científicos sobre diversos temas de interesse para a medicina, incluindo as neurofibromatoses.

Doutor Mauro Geller orientou dissertações de Mestrado e um doutorado: o da Dra Karin Soares Gonçalves Cunha, cujo talento para a pesquisa em neurofibromatose, recentemente premiado pela Academia Brasileira de Ciências, é um testemunho da grande e positiva influência do seu orientador Mauro Geller.

Se toda esta trajetória acadêmica do Doutor Mauro Geller já é, por si, impressionante, ainda mais marcante é a sua grande habilidade clínica no trato com os milhares de pacientes com neurofibromatoses, e isto é testemunho unânime daqueles que já foram assistidos por ele. Graças ao exemplo pioneiro do Dr. Mauro Geller, os especialistas em neurofibromatoses começaram com ele a existir no Brasil e estamos crescendo em número e capacitação.

Homenageado 2012 – Dr. Ivo Pitanguy

Há mais de 60 anos Doutor Ivo Pitanguy tem trabalhado incansavelmente para tornar a cirurgia plástica especialidade mais conhecida e respeitada. Ele tem sido líder de diversos serviços pioneiros e de referência internacional, como o Serviço de Queimaduras e de Cirurgia Reparadora do Hospital Souza Aguiar, o Serviço de Cirurgia Plástica e Reparadora da Santa Casa.

Devido à crescente demanda por seus serviços e sua preocupação constante em difundir o ensino e atender a população carente, Ivo Pitanguy criou a 38ª Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, dedicada ao atendimento da população mais pobre. Aquela enfermaria ampliou o alcance da cirurgia plástica, recuperando a importância social daquela especialidade, onde tem atendido pessoas com neurofibromatoses, especialmente aqueles casos mais graves de deformidades causadas pela doença.

Além das cirurgias que realiza, o professor Ivo Pitanguy apresenta conferências e ministra aulas a convite de universidades e entidades médicas do Brasil e de outras partes do mundo. O professor já participou de 2.064 conferências no Brasil e em outros países, com aproximadamente 1.800 publicações entre livros, capítulos de livros, prefácios, conferências e artigos científicos.

 

Homenageado 2012 – André Bueno Belo 

André foi o primeiro presidente da AMANF e graças aos seus esforços e de sua família nossa instituição se tornou uma referência nacional para o acolhimento das pessoas com neurofibromatoses. Na foto acima, sua família recebe uma homenagem após o falecimento precoce do André, que muito nos causa pesar.

 

Homenageado 2014 – Dr. Vincent M. Riccardi

Dr Vincent Michael Riccardi (Estados Unidos) é o pioneiro no atendimento em genética clínica que na década de 70 despertou a comunidade científica para o estudo da neurofibromatoses. Ele possui dezenas de publicações sobre neurofibromatose e recebeu em 2008 o Prêmio Von Recklinghausen da Children’s Tumor Foundation pela sua contribuição à compreensão da doença.

 Dr Riccardi trabalha atualmente como membro do The Neurofibromatosis Institute, Inc. Endereço: 5415 Briggs Avenue, La Crescenta, CA.

Dr Riccardi foi convidado de honra de dois Simpósios Internacionais sobre Neurofibromatoses realizados no Brasil (2009 e 2014), realizando palestras muito importantes para o desenvolvimento científico e para o atendimento clínico das neurofibromatoses. Participou de reunião da AMANF, onde contribuiu com sugestões importantes e examinou diversos pacientes do CRNF HC UFMG.

 

Homenageado 2016 – Dr José Renan da Cunha Mello

O Dr. José Renan, além dos seus grandes méritos que o tornaram Professor Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, sempre esteve disposto a ajudar todas as pessoas com Neurofibromatoses que precisaram de seus excelentes serviços como cirurgião, especialmente nos casos cirúrgicos mais difíceis, acolhendo nossos associados com grande empatia e perfeita competência profissional, dentro da mais genuína medicina pública e humanitária.

O Dr. José Renan possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (1968), graduação em Veterinária pela Universidade Federal de Minas Gerais (1983), graduação em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (2003), mestrado em Ciências Biológicas (Fisiologia e Farmacologia) pela Universidade Federal de Minas Gerais (1975), doutorado em Cirurgia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1985), pós doutorado no National Heart Lung and blood Institute, NIH, Bethesda, MD, USA (1985-1988). Foi durante muitos anos bolsista do CNPq e participou por períodos variados como membro titular do CA/MD. Foi representante da área de Medicina III da Capes por dois triênios. Aposentadoria compulsória como professor Titular do Departamento de Cirurgia em agosto de 2015, tendo sido convidado, logo em seguida, para exercer função de Assessor junto à Diretoria da Faculdade de Medicina da UFMG. Em setembro de 2015, a Congregação da FM propôs o seu nome para Professor Emérito da UFMG, aprovado por unanimidade. Atualmente é Professor Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), título que o incentivou a manter atividades de orientação e de pesquisa no Laboratório Professor Freire Maia, sob sua coordenação. Tem experiência na área de cirurgia com ênfase em Cirurgia Oncológica. Suas principais linhas de pesquisa são: Mecanismo de ação da toxina de escorpião; Fisiopatologia dos choques distributivo e hemorrágico e Transdução de sinais de membrana em mastócitos.

 Saudação ao Professor José Renan da Cunha Melo

Pelo Professor Luiz Otávio Savassi Rocha – 30 de março de 2022

Sensibilizado com o honroso convite para saudar o Professor José Renan da Cunha Melo, meu colega de turma no Colégio Estadual e, posteriormente, na Faculdade de Medicina da UFMG, cumpre-me, em um primeiro momento, dizer algumas palavras sobre o saudoso Professor Cícero Ferreira, cujo nome ornamenta a medalha que ora lhe é outorgada.

Em 1868, exatamente 100 anos antes de nossa formatura nesta Faculdade, meu bisavô, Cassiano Nunes Moreira, graduou-se pela então sexagenária Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, hoje Faculdade de Medicina da UFRJ. Durante o curso médico, Cassiano foi aluno do eminente clínico João Vicente Torres Homem, que, anos depois, converter-se-ia no paraninfo dos doutorandos de 1885, entre os quais se incluíam Miguel Couto, internista de escol, e o próprio Cícero Ferreira, cujo busto, que não me canso de reverenciar, desponta no jardim aqui em frente, ao lado de majestoso jatobá – um legado da 54ª turma, que colou grau em 1969. Por demais admirado por seus pares, Cícero Ferreira faleceu em 14 de agosto de 1920, aos 59 anos, na condição de diretor desta Faculdade; um mês depois, em sessão solene em homenagem à sua memória, o Professor Álvaro de Barros, catedrático da Clínica Neurológica e Psiquiátrica, afirmou, em emocionada oração: “Tudo aqui o há de aclamar como o maior e o melhor dos nossos”; e, logo em seguida, inspirado em passagem do Novo Testamento (Lucas 19:40), arrematou: “E ‘se os sacerdotes emudecerem, bradarão as pedras do Templo!’ ”. O fato de a medalha ora outorgada ao Professor José Renan da Cunha Melo receber o nome de Cícero Ferreira é uma prova inconteste de que os “sacerdotes”, representados por aqueles que o sucederam, certamente não se calaram, transcorridos quase 102 anos de sua morte; sendo assim, as “pedras do templo”, representadas pelas vigas que sustentam este edifício, poderão, cúmplices, permanecer em silêncio.

Conheci José Renan da Cunha Melo, e dele tornei-me amigo, nos idos de 1961, quando, colegas de turma, cursávamos o 1º Científico no inolvidável Colégio Estadual. Trata-se, pois, de mais de 60 anos de fraternal convívio, sentimento compartilhado por seu fiel companheiro em memoráveis jornadas cirúrgicas – meu irmão Paulo Roberto, também ex-aluno do Colégio Estadual e Professor Emérito desta Faculdade.

Escola pública de referência, onde “até o ar era estudado”, o Colégio Estadual, em seu período áureo (1956-1964), distinguia-se pela excelência do ensino, por admitir rapazes e moças, pelo extremo rigor na avaliação dos alunos e, sobretudo, por privilegiar o autogoverno dos mesmos na gestão da própria aprendizagem. Ademais, o fato de tratar-se de um conjunto arquitetônico sui generis, desprovido de muros e aberto para o espaço urbano, era um convite à “liberdade com responsabilidade”. Por conseguinte, é compreensível que aqueles que estudaram no Colégio Estadual até meados dos anos 1960 se refiram com indisfarçável orgulho àquele templo do saber que, por suas características, prefigurava o ambiente universitário, destino natural da maior parte de seus egressos. Ilustram, exemplarmente, semelhante sentimento as palavras do ex-aluno Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, membro da Academia Mineira de Letras: “O Colégio Estadual parecia a academia grega dos peripatéticos, porque ficávamos andando, ao longo de conversas intermináveis, por entre as colunas de Niemeyer e os pilares do mundo, trocando ideias sobre filosofia, política, cultura e religião”.

Diante do forte vínculo que nos une, qualquer elogio explícito ao Professor José Renan que porventura de mim partisse, seria inevitavelmente contaminado pelo viés da amizade. Tudo o que eu aqui dissesse estaria, salvo melhor juízo, sob forte suspeição. Prefiro, por conseguinte, ceder a palavra a dois eminentes professores – Umberto Perrotta e Jaime Arturo Ramirez – que, com a necessária isenção, a ele se referiram de forma lapidar em duas oportunidades, separadas por 25 anos.

Italiano da província de Cosenza, na região da Calábria, Umberto Perrotta faleceu aos 92 anos em 1º de novembro de 2016, na condição de Professor Titular de Cirurgia da UFRJ, Professor Emérito da mesma instituição e membro da Academia Nacional de Medicina. Em homenagem póstuma – “Sessão da Saudade” – realizada em 6 de julho de 2017 na Academia Nacional de Medicina, Umberto Perrotta foi definido por seu confrade Henrique Murad como um “homem franco, honesto, fiel a seus amigos, rígido em seus princípios e amante de uma polêmica”. Dirigindo-se ao Professor José Renan, na condição de um dos componentes da banca examinadora do concurso para Professor Titular do Departamento de Cirurgia desta Faculdade, em 1991, assim se expressou o Professor Umberto Perrotta: “O senhor é um patrimônio nacional. O senhor não se pertence mais”. Passados 30 anos, essas candentes palavras permanecem gravadas, de forma indelével, em minha memória.

Professor Titular do Departamento de Engenharia Elétrica da UFMG e sócio-fundador da Sociedade Brasileira de Eletromagnetismo, o Professor Jaime Arturo Ramirez foi Reitor da UFMG entre 2014 e 2018. Em 7 de abril de 2016, em memorável sessão solene, emoldurada por tradicionais cantigas do Vale do Jequitinhonha, Jaime Arturo Ramirez referiu-se ao Professor José Renan, ao conferir-lhe o título de Professor Emérito desta Faculdade, como alguém que “não precisava de adornos”, por aliar uma notória simplicidade a uma irremovível inquietação intelectual e uma indiscutível competência como cirurgião, docente e pesquisador em ciência básica. Ou seja, com outras palavras, Jaime Arturo Ramirez subscreveu a máxima atribuída ao polímata Leonardo da Vinci, segundo a qual “a simplicidade é o mais alto grau de sofisticação”.

Vale registrar que, na oração que proferiu ao receber o título de Professor Emérito, em 7 de abril de 2016, o Professor José Renan fez menção a três pacientes que, ao longo de sua carreira como cirurgião geral, teria involuntariamente prejudicado por excesso de autoconfiança e/ou por limitação técnica não percebida a tempo; chegou mesmo a afirmar, na ocasião, que dois desses pacientes teriam falecido em decorrência de sua atuação. Ademais, confessou que a lembrança desses pacientes o acompanhava quase diariamente, em seus trajetos ciclísticos entre sua residência e a Faculdade de Medicina; e, emocionado, propôs um minuto de silêncio em sua memória. A corajosa confissão do Professor José Renan remete ao livro Do no harm: Stories of life, death and brain surgery, uma autobiografia do Dr. Henry Marsh, neurocirurgião inglês que, durante muitos anos, com sua reconhecida expertise, prestou assistência a seus congêneres na Ucrânia, hoje devastada por guerra fratricida. Marco na história médica, trata-se de um depoimento corajoso e radicalmente honesto, por meio do qual o Dr. Henry Marsh contempla alguns de seus fracassos e faz uma espécie de mea culpa, reconhecendo, na esteira de René Leriche (1879-1955), que certos pacientes convertem-se em uma espécie de lápide simbólica, no cemitério virtual que todo cirurgião costuma visitar mentalmente em suas noites insones. Mutatis mutandis, as experiências do doutores José Renan e Henry Marsh se equivalem, e evocam as célebres palavras do poeta e dramaturgo romano Públio Terêncio Afro, que viveu entre os anos 185 e 159 antes de Cristo: “Homo sum: humani nihil a me alienum puto” (‘Sou homem: não julgo alheio a mim nada do que é humano”).

A propósito da trajetória do Professor José Renan, sinto-me na obrigação de relatar um episódio que vale por si mesmo e, por conseguinte, prescinde de maiores comentários. Em outubro de 2019, movido por invulgar desprendimento, ele coordenou um verdadeiro “mutirão cirúrgico” em Araçuaí, sua terra natal: com a participação de um anestesiologista ali radicado, três residentes de Anestesiologia do Hospital das Clínicas da UFMG e dois docentes de Ginecologia de nossa Faculdade, a equipe realizou, durante quatro dias, 62 procedimentos cirúrgicos em pessoas carentes, muitas das quais aguardavam, havia alguns meses ou, até mesmo, alguns anos, uma solução para o seu mal. Terminado o “mutirão cirúrgico”, José Renan permaneceu na cidade por mais 15 dias, na expectativa de eventuais complicações, que, felizmente, não ocorreram. Para quem conhece nosso homenageado, semelhante iniciativa não surpreende. Ao contrário, coaduna-se perfeitamente com o perfil de alguém que fez do Campus da Saúde sua segunda casa e, em detrimento até mesmo de suas necessidades básicas, ali mourejou diuturnamente, ora em seu laboratório no prédio da Faculdade, ora no centro cirúrgico do Hospital das Clínicas, ora no setor de Cirurgia Ambulatorial do Hospital Borges da Costa, o antigo Instituto do Radium.

Em inequívoca demonstração de sua inquietação intelectual, o Professor José Renan graduou-se em Veterinária pela UFMG, em 1983, e em Direito, também pela UFMG, em 2003. No momento, encontra-se em fase de conclusão sua nova tese de doutorado – “O direito à saúde baseado em evidências” –, por meio da qual ele propõe um casamento, de caráter transdisciplinar, entre o Direito e a Medicina. A propósito da chamada “transdisciplinaridade” – tema que me é muito caro –, merece registro o instigante ensaio publicado, em 1999, pelo Professor Ivan Domingues et alii em revista da Faculdade de Educação da UFMG, por meio do qual propunham-se as bases para a criação, em caráter experimental, do IEAT (Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares). De acordo com os autores do ensaio, “com a acumulação de uma massa gigantesca de conhecimentos, compartimentalizados em disciplinas e especialidades vizinhas” que, no entanto, “se ignoram umas às outras e não se tocam”, instituiu-se radical “segmentação do saber”, numa “escala jamais vista”; por conseguinte, “o próprio conhecimento passou a ser gerado, manipulado e guardado por um corpo de especialistas” que “montam guarda na cancela” e, vigiando suas fronteiras, zelam por sua difusão setorizada. Em consequência, “a própria unidade da Universidade, se é que ela existiu um dia, se desfez e, na ausência de um tópos compartilhado e sem uma medida comum, o conhecimento se fragmentou e se compartimentalizou, resultando em um agregado refinado, exato e preciso no particular, mas amorfo, desarticulado, heteróclito e compósito, incapaz de se unificar, interagir e refletir sobre si mesmo”. Em sua “busca epistemológica pelo novo”, os membros do IEAT dispunham-se a trabalhar na fronteira das diferentes disciplinas e especialidades, procurando decodificar o que as une e o que as ultrapassa, sem perder de vista que a expressão “fronteira” deveria ser entendida como um “espaço de troca” e nunca como uma barreira intransponível. Para o Professor Carlos Antônio Leite Brandão, autor do livro A república dos saberes, arte, ciência, universidade e outras fronteiras (Belo Horizonte: Editora UFMG; IEAT, 2008) – uma reunião das exposições e conferências promovidas pelo IEAT em 2006 –, a chamada “transdisciplinaridade” privilegia a criação “de um ambiente ou ‘contágio’, em que várias disciplinas não apenas coabitam, de forma multidisciplinar, ou interagem, de forma  interdisciplinar, mas também se deixam contaminar e modificar – em nível de conceitos, metodologias e procedimentos – pelas outras disciplinas que delas se avizinham”. Acredito que os membros do IEAT se interessariam sobremaneira por uma tese de doutorado intitulada “O direito à saúde baseado em evidências”, a ser defendida por alguém que, relativizando suas fronteiras, ousa contemplar áreas do conhecimento aparentemente tão díspares como o Direito e a Medicina.

Meu pai, o saudoso Cristóvão Rocha, que muito prezava nosso homenageado, gostava de repetir um conselho ouvido de um amigo: “Quando você for redigir um discurso, seja breve, e será sempre absolvido. Isso porque, se o discurso for curto, mas ruim, o comentário será este: ‘Bem, pelo menos falou pouco…’. Ao contrário, se o discurso for curto e bom, outro será o comentário: ‘Foi pena ter falado tão pouco…’.”  Procurando seguir semelhante conselho, paro por aqui, na expectativa de ser absolvido. Antes porém, volvo o pensamento para o velho Calhau, berço de tão caras tradições, e, à guisa de arremate, saúdo, em alto e bom som, um de seus filhos mais queridos: Ave, Professor José Renan da Cunha Melo!

 

 

Homenageado 2022 – Dr. Nilton Alves de Rezende

O Dr. Nilton Alves de Rezende, motivado pelas demandas médicas e familiares decorrentes da neurofibromatose de um de seus filhos, participa da AMANF desde suas primeiras reuniões, em 2002, as quais eram realizadas na residência da Dona Mônica Bueno, mãe do André Belo, de saudosa memória, portador de Neurofibromatose do Tipo 1 (NF1) e nosso primeiro presidente.

Formado em Medicina em 1980 e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Dr. Nilton trouxe sua experiência profissional para as reuniões da AMANF, percebendo de imediato a nossa necessidade de contarmos com um ambulatório de atendimento médico que pudesse receber as pessoas com neurofibromatose.

Com este propósito, Dr. Nilton idealizou um ambulatório no Hospital das Clínicas da UFMG, ao qual denominou Centro de Referência em Neurofibromatoses (CRNF), que foi inserido no Sistema Único de Saúde (SUS) e protegido institucionalmente por um Projeto de Extensão do Departamento. Dr. Nilton se encarregou de todos os processos legais para a abertura do CRNF, obtendo espaço no Ambulatório de Dermatologia, onde o CRNF já atendeu mais de duas mil famílias com NF até o presente.

No CRNF, Dr. Nilton vem contando com a colaboração de colegas da medicina, como Dr. Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues, Dra. Juliana Ferreira de Souza, Dr. Bruno César Lage Cota, Dra. Luiza de Oliveira Rodrigues e Dr. Renato de Souza Viana, que formam a atual equipe que vem prestando assistência médica presencial e por videoconferência a centenas de pessoas por ano. No entanto, muitos profissionais da saúde têm colaborado com o trabalho do CRNF, como profissionais e estudantes da fonoaudiologia, psicologia, nutrição, enfermagem e medicina.

A AMANF e o CRNF também têm se beneficiado da experiência científica do Dr. Nilton, pois ele realizou mestrado e doutorado na UFMG e pós doutorado na Emory Univesity e no Center of Disease Control de Atlanta. Sob sua orientação, diversos estudantes de pós graduação em Saúde do Adulto realizaram seus mestrados e doutorados estudando as neurofibromatoses, o que ampliou a compreensão científica das NF e permitiu à AMANF e ao CRNF serem reconhecidos internacionalmente, o que motivou o convite para a participação do CRNF na nova definição dos critérios diagnósticos internacionais para as NF.

Ao lado de seu trabalho nos últimos 20 anos, em dedicação praticamente exclusiva para o atendimento clínico e desenvolvimento do conhecimento científico sobre as neurofibromatoses, Dr. Nilton sempre esteve presente nas reuniões da AMANF, sendo nosso Conselheiro Científico em diversas gestões, assim como nos representou em todos os Congressos Internacionais sobre NF desde 2008.

Não bastassem suas competências acadêmicas, Dr. Nilton é uma pessoa ética, generosa, atenta às necessidades dos outros e empenhada em transformar a qualidade de vida das pessoas doentes, em especial daquelas acometidas pelas neurofibromatoses.

Por estes motivos, por decisão unânime, a atual diretoria da AMANF resolver conceder ao Dr. Nilton Alves de Rezende o Troféu Mônica Bueno, como símbolo de nossa eterna gratidão.

Belo Horizonte, 24 de setembro de 2022

Adriana Venuto – Presidenta da AMANF

 

Homenageado de 2022 – Dr. Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues (Dr. Lor)

Discurso escrito pela sua filha Maria Helena e lido pelo neto Pedro Henrique.

Primeiramente, gostaria de agradecer a presença de cada um de vocês, que contribuíram para esse momento acontecer. Esperamos quase três anos para nos encontrar novamente.  Fiquei responsável por falar algumas palavras para uma pessoa que vem contribuindo com dedicação, amor e conhecimento científico, para ajudar as pessoas com Neurofibromatoses e seus familiares. Um atendimento humano, assim falam as pessoas que são atendidas por ele.

Eu, como filha, não tenho palavras para agradecer o carinho, amor e dedicação.

Pai, Dr Lor, muito obrigada por tudo. É por isso que nós da diretoria, decidimos entregar um troféu Mônica Bueno para você.

 

Dr. Lor nasceu em Jesuânia, MG em 27/3/49 e reside em Belo Horizonte, Minas Gerais, casado com Thalma, pai de Ana, Maria Helena e Luíza e avô de Alice, Francisco, Rosa, Pedro e Antônio.

É médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais em 1972, trabalhou com professor na mesma universidade, onde, depois de aposentado, ajudou a criar e é o Coordenador Clínico do Centro de Referência em Neurofibromatoses do Hospital das Clínicas da UFMG.

Foi Pesquisador Bolsista de Produtividade do CNPq de 1984 a 2018, estudando termorregulação no exercício e aspectos clínicos das neurofibromatoses. Publicou diversos artigos e realizou orientações de iniciação científica, mestrado e doutorado.

Atualmente é diretor administrativo (2021-2024) da Associação Mineira de Apoio às pessoas com Neurofibromatoses (AMANF) e divulga informações científicas sobre as neurofibromatoses no site www.amanf.org.br

Com o pseudônimo de LOR, tornou-se cartunista em 1973 e desde então publicou charges, quadrinhos, ilustrações, cartuns e cartilhas didáticas, em livros e em diversos órgãos de imprensa. Seus desenhos atuais e textos de humor podem ser vistos no blog www.lorcartunista.blogspot.com.br

Currículo quase completo: http://lattes.cnpq.br/6211659251836942