A Dra. Vanessa Waisberg enviou-me um artigo publicado na revista Neurology em 2016 (VER AQUI ) pelo grupo liderado pelo Dr. David Gareth Evans, um dos mais experientes médicos em Neurofibromatose do tipo 2 (NF2). No artigo eles relatam a revisão que fizeram nos arquivos do Manchester NF2 Database (que reúne a experiência de diversos hospitais ingleses) de todas as pessoas atendidas com apenas um tumor (schwannoma) no nervo vestibular e chegaram à conclusão de que precisamos aperfeiçoar os critérios atuais para o diagnóstico da NF2.

Resumirei a seguir o que eles relataram.

Os autores separaram 205 pessoas com diagnóstico de NF2 que inicialmente apresentavam apenas um schwannoma vestibular (SVU). Desse total, 83 (40,7%) acabaram desenvolvendo outro schwannoma no nervo vestibular do outro lado, completando, portanto, o diagnóstico de segurança de NF2.

Os pesquisadores concentraram sua atenção num grupo de 70 pessoas que apresentavam SVU associado a dois outros tumores relacionados com a NF2. Destas pessoas, 20 delas também desenvolveram a doença bilateral, ou seja, confirmaram a NF2.

Dentre as 50 restantes, 5 delas (10%) apresentavam uma mutação germinativa do gene NF2 e outras 5 (10%) apresentavam uma mutação patológica (ou provavelmente patológica) também germinativa no gene LZTR1.

O gene LZTR1 (cuja sigla quer dizer leucine-zipper-like transcriptional regulator-1) está localizado no cromossomo 22q11, (VER AQUI), O gene LZTR1 participa da formação do embrião e mutações em seu código podem se manifestar como Schwannomatose do tipo 2, enquanto a Schwannomatose do tipo 1 é causada por mutações no gene SMARCB1 (localizado no cromossomo 22q12.2). Portanto ambos os genes, LZTR1 e SMARCB1 estão próximos ao gene NF2 (22q12.2), o que explica o seu envolvimento na formação de múltiplos schwannomas nestas doenças.

A conclusão do grupo de Evans foi de que a causa mais provável para SVU acompanhado de dois tumores (entre aqueles relacionados com a NF2) é a forma em mosaico da NF2. As mutações em células germinativas do gene NF2 e do gene LZTR1 apresentaram a mesma frequência como causa de SVU associado a dois tumores.

Por isso, eles recomendaram que o teste para mutações no gene LZTR1 deve ser realizado na presença de SVU sem a mutação germinativa do gene NF2.

Diante disso, os autores sugeriram algumas alterações nos atuais critérios diagnósticos para NF2 para melhorarmos sua especificidade, ou seja, nossa capacidade de diagnosticarmos corretamente a NF2.

Estudei o artigo e estou de acordo com a sugestão proposta e apresento abaixo os novos critérios para o diagnóstico de NF2.

Para o diagnóstico de NF2 a pessoa precisa apresentar, antes dos 70 anos de idade, pelo menos uma das cinco situações abaixo:

  • Tumores em ambos os nervos vestibulares (são chamados de Schwannomas)
  • Um ou mais parentes de primeiro grau com NF2 e mais um schwannoma em apenas um dos nervos vestibulares.
  • Um ou mais parentes de primeiro grau com NF2 e mais uma (ou mais) das situações abaixo:
    1. Alteração ocular chamada opacidade lenticular posterior(ou catarata subcapsular juvenil).
    2. DOISou mais tumores de qualquer um dos seguintes tipos: schwannomas, meningiomas, gliomas, neurofibromas
    3. Calcificações cerebrais
    4. Se for UM schwannoma vestibular + dois schwannomas não intradérmicos, realizar o teste para afastar a mutação LZTR1.
  • Dois (ou mais) meningiomas+ DOIS (ou mais) tumores de qualquer um dos seguintes tipos: schwannoma vestibular, schwannomas, meningiomas, gliomas, neurofibromas e também opacidade capsular posterior.
  • Mutação patológica no gene NF2 do tipo constitucional ou em mosaico no sangue ou mutação idêntica em dois tumores distintos.

A partir de hoje, estes critérios modificados passam a fazer parte de nossas páginas permanentes.