Ontem vimos que ao mesmo tempo em que nossas associações precisam atuar politicamente para garantir recursos para as pesquisas em saúde, um outro segundo desafio consiste em definir quais são os critérios justos para a distribuição dos recursos públicos entre as diversas doenças que acometem a população.
Partimos do princípio que precisamos de critérios objetivos, claros, transparentes, justos e democráticos para a distribuição das verbas entre as diferentes áreas da ciência.
Por exemplo, na área da saúde, estes critérios devem mostrar a relevância de uma pesquisa a partir de valores humanos e não em valores comerciais. Por exemplo, vejamos alguns destes valores humanos que estão em questão em toda pesquisa sobre saúde:
1) Quantas pessoas serão beneficiadas em cada pesquisa?
2) Qual a gravidade das doenças em cada pesquisa?
3) Há possibilidade de prevenção para evitarmos o seu aparecimento?
4) Existem alternativas para o tratamento proposto?
5) Será um tratamento capaz de curar ou controlar a doença?
6) Qual é a taxa de mortalidade da doença?
7) A doença é contagiosa?
8) Qual é a redução da expectativa de vida pela doença?
9) A doença é incapacitante?
10) Qual é a faixa etária de maior incidência da doença?
11) Qual a probabilidade científica do resultado ser positivo?
12) Quantos anos serão necessários para a pesquisa se transformar num tratamento ou medicamento disponível?
13) E possivelmente outros critérios que possam ser lembrados por pessoas mais conhecedoras do assunto.
Apenas para ilustrar, vou tentar aplicar estes critérios de relevância a duas pesquisas hipotéticas, cada uma delas custando 100 mil reais por um ano, uma delas destinada ao tratamento da neurofibromatose do tipo 1 e a outra ao tratamento do diabetes do tipo 2.
Imagino que você tenha tantas dúvidas quanto eu, porque este quadro acima nos mostra a complexidade da decisão quando temos que definir qual das duas doenças deverá receber o financiamento para uma pesquisa.
Não é fácil “apostar todas as fichas” no estudo de uma doença quando existem outras pessoas com diferentes doenças precisando do mesmo recurso financeiro. Até dentro da mesma doença, como a NF1, onde pode haver pessoas que desejam tratamentos para os neurofibromas e outras cuja prioridade seria melhorar as dificuldades de aprendizado, ou tratar o glioma óptico.
Mesmo que os governos decidam investir mais recursos nas pesquisas destinadas à saúde pública, vivemos num mundo de recursos finitos, onde sempre haverá um limite para a distribuição dos financiamentos.
Por isso precisamos de recursos disponíveis e de critérios objetivos, mas existem outros fatores de grande importância na decisão dos destinos das verbas públicas: a visão pública da doença e a competição entre os cientistas.
Amanhã continuamos com estas questões.