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Há uma coisa mais importante do que gerar novos conhecimentos sobre as neurofibromatoses: gerar novos seres humanos!
É isto que algumas pesquisadoras estão fazendo no Centro de Referência em Neurofibromatoses do Hospital das Clínicas da UFMG.
Dra. Vanessa Waisberg, oftalmologista e estudante de pós-graduação em Medicina Molecular, acabou de trazer ao mundo o Rafael. Ela está estudando algumas alterações que acontecem na retina das pessoas com Neurofibromatose do tipo 2 e seu trabalho está bem avançado. Seus resultados poderão nos ajudar muito no diagnóstico e aconselhamento familiar, assim como no acompanhamento das pessoas com NF2. A pausa para cuidar do seu bebê vai trazer muito mais sabedoria à Dra. Vanessa, o que só vai ajudar na construção do conhecimento científico que ela está realizando.
Dra. Hérika Martins, radiologista e também estudante de pós-graduação na Medicina Molecular, também nos trouxe mais uma criança para alegrar o mundo. Dra. Hérika está estudando de que forma as imagens obtidas com a tomografia computadorizada associada à emissão de prótons podem ajudar no diagnóstico e tratamento dos neurofibromas plexiformes na Neurofibromatose do tipo 1. Ao mesmo tempo que estuda a questão, ela tem nos ajudado no atendimento imediato das pessoas que recebemos no CRNF. Desejo à Dra. Hérika que ela aproveite este momento importante com seu bebê, pois ele também faz parte da compreensão do mundo que pretendemos ter.
É interessante lembrar que a Dra. Luíza de Oliveira Rodrigues também estava realizando seu doutorado quando ganhou o Antônio, seu segundo filho e meu quinto neto. Ela estava estudando o metabolismo da glicose e marcadores inflamatórios na Neurofibromatose do tipo 1 e, apesar de ter se afastado do doutorado formal, ela continua participando conosco e nos ajudando em inúmeros momentos no atendimento às pessoas com neurofibromatose.
Da mesma forma, a fonoaudióloga Carla Silva também teve seu segundo filho na época do seu doutorado conosco, quando estudava problemas fonoaudiológicos na NF1.
Finalmente, a Dra. Ana Paula Champs, médica na Rede Sarah, que nos ajudou no diagnóstico dos primeiros casos de Schwannomatose, também está de licença maternidade.
Para as mulheres cientistas, ter filhos durante a época da pós-graduação não é uma raridade: lembro-me de imediato de Maria Angela Moura, Lívia Borges, Giane Amorim e Luciana Napoleão, apenas entre aquelas que fizeram pós-graduação sob minha orientação. Pelo contrário, é uma época de fertilidade biológica e intelectual e isto deve ser levado em conta na construção da carreira científica das mulheres.
O investimento feminino na tarefa de criar novos seres humanos modifica o ritmo da carreira científica das mulheres e por isso elas não recebem o mesmo reconhecimento acadêmico que os homens. É preciso acabarmos com a competição científica atual, que prejudica a todos, mas em especial às mulheres, para garantirmos a elas a importância da maternidade na construção da humanidade.
As estas cinco profissionais dedicadas e brilhantes, quero agradecer em nome do CRNF a sua colaboração para com nossos pacientes e pesquisas e desejar que usem neste momento vital (para todos nós) a sua criatividade para a construção da felicidade de suas crianças.
No tempo oportuno, tenho certeza de que continuarão a contribuir para o melhor conhecimento das neurofibromatoses. Aqui estaremos com o coração cheio de esperança.
PS: Depois de escrever sobre nossas valorosas mães pesquisadoras, lembrei-me que deixei de fora o Bruno Cota, que está realizando seu mestrado conosco em neurofibromatoses e amusia (ver blog de antes de ontem) e também está esperando um filho para os próximos meses. Meu “esquecimento” é sintomático de como a questão da maternidade não nos preocupa, os homens envolvidos na pesquisa científica.