Tema 274 – Curso de Capacitação em NF – Como se fazem pesquisas em neurofibromatose?
No último sábado (24/9/16), os nutricionistas e alunos de pós-graduação da Faculdade de Medicina da UFMG Aline Martins e Márcio Souza ofereceram uma excelente aula sobre como se faz pesquisa clínica em geral e em especial nas neurofibromatoses e depois apresentaram um resumo das pesquisas já realizadas e em andamento no nosso Centro de Referência em Neurofibromatoses.
Aline e Márcio mostraram um breve histórico das descobertas em NF, no qual aprendemos que cada novo conhecimento apresenta um tempo de amadurecimento. Por exemplo, a primeira descrição médica de uma pessoa com sinais prováveis de serem decorrentes da NF1 foi em 1785, mas somente cem anos depois é que Friedrich Daniel von Recklinghausen descreveu a doença de uma forma mais completa.
Aline e Márcio mostraram que nos últimos anos as descobertas vêm aumentando em quantidade, por exemplo, nos últimos 30 anos foram cerca de 2 mil novos artigos científicos publicados sobre neurofirbromatoses, cada um deles com uma pequena informação que se junta às demais já publicadas e assim vamos construindo o conjunto de informações que nos permitem avançar no cuidado das pessoas com NF.
De qualquer forma, temos a impressão de que desde os trabalhos pioneiros de Vincent M. Riccardi na década de 70, a cada dez anos aproximadamente percebemos uma mudança marcante na abordagem das NF. Assim, na década de 70 Riccardi trouxe as NF à luz e propôs que ela se manifestaria em 7 formas diferentes; na década de oitenta, foram definidos os critérios que separaram a NF1 da NF2 e a descoberta dos genes responsáveis pelas duas doenças; na década de 90 descobriu-se a schwannomatose e conhecemos melhor a volução da NF1 e da NF2; na década de 2000 tomamos conhecimento da Síndrome de Legius como diagnóstico diferencial da NF1 e camundongos foram geneticamente modificados para NF1 para ajudarem nos estudos sobre tumores e dificuldades de aprendizado; nesta década em que estamos, temos aprimorado nosso conhecimento sobre fenótipos especiais, mecanismos de crescimentos dos tumores e critérios de intervenção cirúrgica.
Aline e Márcio também mostraram que as diversas pesquisas realizadas em nosso Centro de Referência contaram com muito poucos recursos financeiros, o que nos impede, por um lado de desenvolvermos pesquisas caras sobre drogas em células tumorais (como aquela da Dra. Kate Barald – ver aqui), mas por outro nos direciona a atenção e aguçamos nosso olhar clínico sobre as NF.
Este olhar mais clínico do que laboratorial é um pouco o oposto do olhar predominantemente laboratorial nos países mais ricos. Por isto, acabamos por descobrir manifestações da NF que eles nunca haviam prestado atenção e descrito cientificamente.
Foram estudadas pela primeira vez na história as seguintes manifestações nas NF agrupadas abaixo:
1) Alterações fonoaudiológicas na NF1, na fonação, na deglutição e no processamento auditivo, com a possibilidade de tratamento;
2) Redução de força e da capacidade aeróbica e aumento de quedas na NF1 e suas relações com os níveis de Vitamina D;
3) Baixa representação social da NF1 e suas implicações psicológicas nas pessoas e suas famílias;
4) Fenótipo do segundo sinal do dedo dos pés e suas relações com a deleção completa do gene NF1;
5) Características nutricionais, taxa metabóçica basal, glicemia de jejum, resistência à insulina e menor chance de diabetes do tipo 2 nas pessoas com NF1;
6) Dificuldades musicais nas pessoas com NF1 e suas relações com o aprendizado;
7) Fenótipo especial e sua relação com a gravidade da evolução na NF2, a partir da Tomografia de Coerência Óptica;
8) Novas mutações inéditas no gene NF1, interações com outros genes nas dificuldades escolares, comprimento dos telômeros, marcadores biológicos tumorais e aprimoramento da observação das alterações no PET CT em pessoas com neurofibromas plexiformes na NF1, todas estas pesquisas realizadas em colaboração com o Centro ede Medicina Molecular da UFMG.
Pode-se ver que as pesquisas realizadas em nosso Centro de Referência são predominantemente estudos de caráter clínico, nos quais o principal equipamento científico é a atenção dos pesquisadores.