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Na última reunião da Associação Mineira de Apoio às Pessoas com Neurofibromatoses, uma das pessoas associadas declarou que sua dor de cabeça havia melhorado depois que ela começara a usar um equipamento elétrico chamado CEFALY (figura ao lado fornecida no artigo abaixo), o que a deixava muito feliz agora porque sua dor parecia intratável com diversos medicamentos ao longo de muitos anos.

Naturalmente, muitas pessoas naquela reunião perguntaram se este equipamento realmente funciona para melhorar a dor de cabeça que atinge mais da metade das centenas de pessoas com NF1 atendidas em nosso Centro de Referência em Neurofibromatoses do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Prometi estudar a questão e apresento a seguir o que encontrei.

Começo dizendo que não encontrei nenhum estudo científico que tenha verificado o efeito do CEFALY no tratamento da dor de cabeça em pessoas com NF1. Portanto, não podemos afirmar com certeza que o CEFALY funciona na NF1 porque a doer de cabeça na NF1 pode ter causas diferentes da dor de cabeça em pessoas sem NF1. Até o momento, não sabemos a causa exata da dor de cabeça crônica nas pessoas com NF1.

Assim, comentarei abaixo o melhor estudo que encontrei, ou seja, a revisão mais recente numa revista científica sobre o efeito do CEFALY (em pessoas sem NF1) que encontrei, que foi o artigo de abril de 2016 na Practical Neurology, uma publicação do grupo da British Medical Journal da Inglaterra (quem desejar ver o artigo em inglês CLIQUE AQUI ).

A médica Sarah Miller e seus colaboradores mostraram que não há provas científicas de que a estimulação elétrica dos ramos supraorbitais do nervo trigêmeo pelo equipamento CEFALY funcione melhor do que os medicamentos ou o efeito placebo nas crises agudas de dor de cabeça. Também informaram que o único estudo favorável ao uso do CEFALY como preventivo da dor de cabeça foi uma pesquisa patrocinada pelos fabricantes do equipamento e, mesmo assim, os resultados encontrados foram piores quando comparados ao uso do medicamento chamado topiramato.

De qualquer forma, considerando aqueles casos em que não há outra opção depois de todas as tentativas com medicamentos, a equipe médica inglesa sugere que o CEFALY deve ser testado em novos estudos científicos com populações maiores e com métodos mais rigorosos. Enquanto isso, os clínicos podem considerar a possibilidade de experimentar o CEFALY em alguns casos selecionados, como quando a pessoa apresenta tolerância ou efeitos colaterais com os medicamentos geralmente usados, como analgésicos, combinações de analgésicos e cafeína, topiramato, antidepressivos, anticonvulsivantes, e betabloqueadores, entre outros.

Portanto, na NF1, continuamos, por enquanto sem saber se o CEFALY realmente funcionou para a diminuição da dor de cabeça da nossa associada ou se outros fatores contribuíram para a melhora quando ela passou a usar o aparelho. E torcemos para que os novos estudos científicos incluam pessoas com NF1 em sua pesquisa.

O que posso fazer para melhorar as dores de cabeça? MNS, Aracoiaba da Serra – SP
Cara MNS, obrigado por lembrar um problema relativamente comum entre as pessoas que têm neurofibromatose do tipo 1 e do tipo 2, mas sem ocorrência maior naquelas com Schwannomatose.
Para tratarmos melhor, precisamos dividir as dores de cabeça em agudas ou crônicas. Agudas são aquelas de início súbito e as crônicas são aquelas repetidas ao longo de meses ou anos.

Na NF1, a dor de cabeça crônica é a mais comum, podendo doer toda a cabeça ou apenas parte dela, geralmente uma ou duas vezes por semana, podendo ser moderada ou mesmo tão forte que impeça a pessoa de trabalhar ou ir à escola.

Na maioria das vezes não encontramos uma causa evidente desta dor crônica na NF1, ou seja, o seu mecanismo ainda não é conhecido. O tratamento para elas costuma ser paracetamol ou dipirona.

Também na NF1, a dor pode ser de início recente e então precisa ser investigada, pois pode estar ocorrendo por aumento da pressão dos líquidos dentro do cérebro, chamado de hipertensão intracraniana. 

Esta hipertensão intracraniana pode ser causada por diversos motivos, como alterações anatômicas do cérebro (estenose do aqueduto cerebral) ou aumento da pressão arterial sanguínea, ou crescimento de um tumor. Todas estas situações requerem tratamento especializado e urgente.

Na NF do tipo 2, a dor de cabeça crônica não é comum, mas a dor aguda pode significar o crescimento daqueles tumores comuns na NF2: schwannomas vestibulares, meningiomas. Além disso, pode também haver hipertensão intracraniana na NF2 secundária ao crescimento dos tumores. 

Todas estas situações também requerem a reavaliação do especialista pois precisam de tratamento com urgência.

Mais informações para os profissionais de saúde sobre as dores de cabeça nas NF podem ser encontradas em nosso artigo publicado na revista científica Arquivos de Neuropsiquiatria de 2015 (clique aqui)