Conheço pessoalmente os professores e funcionários da UFMG que sofreram a injustiça de serem levados à Polícia Federal de forma coercitiva para deporem numa investigação sobre o Memorial da Anistia.
Conheço, em especial, o reitor atual, professor Jaime Ramirez, que foi orientador de uma de minhas filhas.
Tenho absoluta certeza de que estas pessoas não cometeram qualquer crime contra o patrimônio público e que a maneira como esta operação foi realizada se destina a desacreditar midiaticamente uma Universidade que tem mantido a esperança brasileira no ensino público de qualidade.
Como professor aposentado e trabalhando como voluntário no Hospital das Clínicas da UFMG, sinto-me pessoalmente atingido por estas ações arbitrárias e fora da lei.
Reproduzo abaixo o texto do nosso sindicato.
“Foi com grande indignação que a diretoria do Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte, Montes Claros e Ouro Branco – APUBH recebeu logo pela manhã, a notícia de que o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, professor Jaime Arturo Ramirez, a vice-reitora, professora Sandra Regina Goulart Almeida e reitores e vice-reitoras de gestões passadas da Instituição foram conduzidos coercitivamente para prestar depoimento na sede da Polícia Federal em Minas Gerais.
A ação faz parte de uma operação intitulada pela PF de “Esperança Equilibrista” e que apura irregularidades e suposto desvio de recursos públicos nas obras de construção do Memorial da Anistia Política do Brasil.
Causa estranhamento a forma como a operação foi conduzida pela Polícia Federal que, antes de notificar a UFMG, nos parece informou a imprensa transformando a ação em um espetáculo midiático, a exemplo do que ocorreu em Santa Catarina.
Tal atitude estabelece um processo de condenação pública e antecipada daqueles que foram chamados a prestar esclarecimentos, sem qualquer acusação formal. Cria um circo em que coloca em xeque a credibilidade de uma das maiores e melhores instituições de ensino público do país e da América Latina, responsável pelo desenvolvimento de pesquisa de ponta e que possui em seu corpo docente professores e pesquisadores reconhecidos nacional e internacionalmente.
A APUBH entende que os fatos devem ser investigados, para que a verdade surja e a justiça seja feita. Porém, condena o uso da “força bruta”, na forma dos mandados de condução coercitiva, pois existem modos mais “educados” para se “convidar” uma testemunha pública, de endereço conhecido e de conduta ilibada para prestar o seu depoimento. O uso destes mandados nos remete à conduta da Polícia no contexto do Estado de Exceção: será que estamos voltando à ditadura? Nos últimos meses, vivenciamos uma sequência de agressões à universidade pública, por meio de cortes orçamentários, suspensão de investimentos, culminando na ação truculenta da PF na manhã de hoje.
Neste difícil momento, por qual passa a UFMG, mais do que cores partidárias, disputas internas por poder na instituição ou em suas unidades, nós temos que nos unir em defesa dessa Universidade que é referência na produção do conhecimento e da luta pelo ensino público, gratuito e de qualidade.”