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Depois de amanhã a PEC 55, aquela que reduzirá o tamanho do estado social brasileiro, será Lei.

Foi dado mais um passo da liberalização da economia no sentido de serem retiradas as poucas e frágeis rédeas do estado sobre a besta voraz do capitalismo, uma fase da humanidade que está ocorrendo em vários países.

No Brasil, a redução dos investimentos públicos em saúde, educação e previdência, que já são insuficientes e ineficazes, abrirão as portas para as empresas privadas ocuparem estes espaços do mercado e explorarem seu grande potencial de lucros.

A flexibilização das leis trabalhistas, leia-se uberização de todas as profissões, permitirá a desvalorização da mão de obra, o aumento da pressão do exército de desempregados sobre os poucos postos de trabalho, reduzindo salários e aumentando lucros.

A reforma da previdência promoverá uma série de injustiças ao aumentar a idade mínima para homens e mulheres da mesma forma, desconsiderando as diferenças entre a jornada dupla de trabalho das mulheres, a remuneração menor do trabalho das mulheres e a contribuição exclusiva das mulheres para o bem mais precioso da humanidade que é a gestação de um novo ser humano. As diferenças contra as mulheres expropriam o corpo das mulheres e, ainda que elas vivam um pouco mais do que os homens, a sua qualidade de vida nestes anos extra é marcada por mais doenças e sofrimentos resultantes da exploração do seu trabalho ao longo da vida.

Além disso, nas últimas décadas a expectativa de vida aumentou, sim, mas diferentemente para cada classe social: os mais ricos, brancos e sulistas vivem mais, mas os mais pobres, negros e nordestinos não ganharam anos de vida na mesma proporção. Além disso, existem profissões que desgastam mais e outras que desgastam menos a saúde das pessoas. Sim, é um absurdo um professor universitário se aposentar aos 45 anos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas vejam que a maioria dos trabalhadores em minerações jamais atingirá os 65 anos propostos pelo governo pau mandado dos empresários internacionais.

O resultado de tudo isso e de outras medidas que estão sendo tramadas pela quadrilha de fichas limpas num certo lava-jato, já sabemos, será o aumento da concentração de renda, da desigualdade social que desperta os monstros que existem em nós: a violência, o medo do estrangeiro, o fanatismo religioso e político, o tráfico de pessoas e de órgãos, o machismo e a as guerras civis.

Mas depois de amanhã, a PEC será Lei.

Aqueles que resistiram à sua aprovação, contra a imensa máquina de propaganda do empresariado (leia-se TV aberta, grandes jornais, poderes executivo, legislativo e judiciário), ainda estão nas ruas, ocupando universidades e escolas públicas. Continuam levantando suas vozes nas redes sociais, protestando, propondo novas alternativas à PEC 55, como cobrar a dívida dos empresários com a previdência, cobrar a dívida dos grandes sonegadores do imposto de renda, taxar as grandes fortunas, criar o imposto sobre o lucro dos bancos e outras soluções para a crise brasileira, mas que sejam A FAVOR DO POVO.

E agora, que a PEC 55 é Lei, dá para dizer para a juventude: voltem para casa, moçada, que o jogo acabou?

Não se trata de um jogo de futebol, como o governo Temer comemorou, em que um campeonato praticamente não afeta o resultado do campeonato seguinte. Esta votação vencida pelo governo atingirá toda uma geração que sofrerá ainda mais do que a atual com os 20 anos de redução do poder protetor do estado brasileiro contra os abusos do capitalismo.

Usando expressões do futebol, o governo atual não joga para vencer a crise, nem para a torcida chamada opinião pública, mas joga rapidamente para seus patrocinadores ao implementar uma política econômica de longo prazo em benefício do empresariado internacional.

Esta política já começou a destruir o pequeno barracão que vínhamos arduamente construindo desde a Constituição de 1988.

Portanto, gurizada, não há casa para voltar.

Veja abaixo a lista dos maiores sonegadores de impostos do Brasil.
Clique aqui:

Apesar da crise que nos abate e entristece, a Associação Mineira de Apoio às Pessoas com Neurofibromatoses conseguiu imprimir mais 1100 exemplares da cartilha “As manchinhas da Mariana”, na sua terceira edição atualizada, com novas informações, incluindo algumas informações sobre NF2 e Schwannomatose. Estas cartilhas são diretamente distribuídas às famílias que não têm acesso à internet.

A versão em PDF está disponível neste blog (aqui ao lado), baixa baixar e imprimir.

Divulgue e faça sugestões e críticas para a próxima edição.

Deixo com vocês mais um texto lúcido e esclarecedor da maior jornalista do Brasil: Eliane Brum.

Denúncia de Facebook
Eliane Brum
26, de Setembro de 2016
Ao apresentar a denúncia contra Luiz Inácio Lula da Silva , o procurador da República Deltan Dallagnol apanhou de (quase) todos os lados, algo bastante raro nestes tempos. Tão raro que merece algum espanto e um tanto de precaução. Em diferentes partes do seu discurso durante a coletiva de imprensa de 14 de setembro , ele chamou Lula de ?comandante máximo? do que definiu como ?propinocracia?, de ?o grande general? do esquema de corrupção e de ?maestro da orquestra criminosa?.Disparou metáforas e abusou dos adjetivos Mas quando efetivamente fez a denúncia, a força-tarefa daLava Jato , em Curitiba, acusou Lula pelos crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro. O que não é pouco, mas é bem diferente de ser o chefe de uma organização criminosa. O episódio é pródigo de sentidos sobre o Brasil atual. Um deles é a corrosão da linguagem. O outro é a demanda por crença. Estas duas dimensões se articulam na gênese do atual momento do país.
O procurador Deltan Dallagnol não parecia estar num tribunal de júri, como chegou a ser sugerido em algumas críticas sobre sua atuação, mas em outra arena, a das redes sociais. Ele não parecia preocupado em informar cidadãos, mas em buscar seguidores. Como um candidato a herói nesta época,seu troféu são cliques no botão de ?curtir?
O representante do Ministério Público Federal acusou sem exibir provas, apresentou como verdade o que não era capaz de provar como verdade. Ao descolar-se da realidade, esvaziou as palavras, o que deveria ser denúncia virou grito. Como no cotidiano das redes sociais, repete-se e repete-se algo para que, pela viralização, ganhe status de verdade.
De imediato, veio a reação. O gráfico do powerpoint em que Dallagnol tentava mostrar como tudo convergia para Lula virou meme. E o que viralizou foi uma frase atribuída ao procurador: ?Não temos provas, mas temos convicção?.
Esta é a parte mais interessante dessa produção de conteúdo viral. A frase não foi dita. Ela era também uma criação. Ainda que seja possível interpretar o conjunto da apresentação do procurador desta maneira, há enorme diferença entre uma afirmação literal, entre aspas, e a interpretação ou conclusão a que um outro possa chegar a partir do que foi dito. Se essa distinção não é estabelecida, perde-se o sujeito e perde-se o discurso.
Naquele momento, a disputa se dava numa guerra de verdades fabricadas. Nas redes, a viralização ou a multiplicação dos compartilhamentos é a melhor estratégia para conferir veracidade a algo ou mesmo transformar versão em fato. Ou ainda, é uma forma de criar realidade.
Não estou aqui dizendo que realidade, verdade e fato são a mesma coisa. O que estou sugerindo como hipótese é que a convocação ? ou invocação ? é a mesma tanto na ação ? a denúncia verbal dos procuradores diante das câmeras de TV ? quanto na reação a ela nas redes. Não se pede pensamento, mas adesão pela fé. A verdade torna-se uma questão de crença ? e a realidade se afirma pela quantidade de crentes que a ela aderem. A experiência cognitiva é substituída pelo botão de ?curtir?. Em vez da reflexão, o espasmo.
De um lado e de outro, o que aparece como mais importante é a convicção, não as provas. E uma convicção formada a partir da quantidade de cliques. Esse desejo feroz de crença tem corroído o país de forma insidiosa. E só persiste porque os fatos, para um e outro lado, são inconvenientes. O problema é que mesmo a história recente já mostrou que tentar contornar os fatos, por mais duros que sejam, resulta em fatos ainda piores.
No caso específico da denúncia de Lula, tanto a ação quanto a reação buscavam adesão pela crença. Os fatos importavam pouco. É necessário, porém, fazer uma distinção de responsabilidades. Deltan Dallagnol falava como procurador da República. Servidor público no exercício de suas funções constitucionais. Quando ele acusa sem apresentar provas, a gravidade é de outra ordem. Pela posição que ocupa, sua palavra tem mais potencial para ser decodificada como verdade. Ao falar como procurador, ele não representa a si mesmo, mas a instituição.
Essa dinâmica assumida pela figura que representa a força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba chama atenção para a ?justiça? que ganha rosto, e que ganha rosto na era da internet. Numa analogia com as redes, ao fazer acusações gravíssimas sem lastro nas provas, Dallagnol faz um ?discurso de ódio?. Neste sentido, o procurador não é muito diferente de um dos ?haters? (odiadores) da internet, ao chamar Lula de ?maestro da orquestra criminosa? sem mostrar o que sustenta essa acusação.
Torna-se preciso então olhar para o indivíduo Deltan Dallagnol, este que personifica o que não deveria ser personificado. Num ótimo texto publicado no jornal Valor , a jornalista Maria Cristina Fernandes conta sobre pessoalidades que ajudam a iluminar algumas escolhas do procurador. Uma delas é a sua admiração por um vídeo da plataforma TED em que o músico Derek Sivers ensina, em três minutos, ?como iniciar um movimento?.
Na tela, há um jovem sem camisa que dança freneticamente numa montanha. Em seguida, outra pessoa junta-se a ele, tornando-se o ?primeiro seguidor?. Logo, todos o imitam. Um líder, segundo Sivers, precisa ter a coragem de arriscar-se a ser ridicularizado. Quando ele recebe adesão em número razoável, a situação se inverte e quem passa a se sentir ridículo é aquele que não adere. O mais importante: ?É o seguidor que transforma o solitário em um líder?. Como autor de um vídeo com quase 6 milhões de visualizações, Sivers certamente sabe o que diz.
Deltan Dallagnol incorporou este vídeo em suas palestras sobre as 10 medidas anticorrupção. Exibiu-o em fevereiro deste ano ao falar no evento ?The Global Leadership Summit?, na Primeira Igreja Batista de Curitiba. O procurador disse então à plateia : ?Tenha a coragem para saber ser liderado. Para se levantar e, quando você vê uma causa boa, se juntar ao maluco solitário que está dançando?.
E, alguns minutos mais tarde: ?Lute pelas causas que você ama como você lutaria por um filho com câncer. Eu duvido que você desistisse de um filho doente com câncer por mais que inúmeros médicos buscassem tirar suas esperanças. Você continuaria lutando, você dobraria os joelhos, você buscaria o impossível, porque você ama aquele filho. Assim como você lutaria por esse filho, meu desafio hoje para você é que você lute pelo teu país?.
Em sua pregação anticorrupção, Dallagnol invoca do púlpito a oportunidade de mudar o país. E faz a comparação: ?Talvez você tenha ido pro Paraguai ou pra Miami e tenha lá pensado o seguinte: eu não gastaria isso que estou gastando, mas aqui é tudo mais barato e vou aproveitar porque é uma oportunidade?. Pede então à plateia para ?curtirem? sua página pública, ?em nome de Deltan Dallagnol?, no Facebook: ?Eu não sabia, porque eu era ignorante em Facebook. Mas, quando você curte uma página você passa a ser alimentado pelo que é postado lá?. E encerra com uma pergunta: ?Nós podemos contar com você??. Pede então que aqueles que apoiam ?as 10 medidas? levantem as mãos. Registra a imagem em seu celular. ?Um dois três… sensacional?.
Deltan Dallagnol é um homem que se investe de uma missão e se apresenta no Twitter como ?seguidor de Jesus?. As aparições públicas do procurador demonstram que ele pede adesão pela fé no líder ? ou no ?maluco solitário? que, pela adesão , torna-se líder. Como se viu na apresentação da denúncia contra Lula, em 14 de setembro, ele também parece seguir à risca o ensinamento do guru Derek Sivers de não temer o ridículo.
É neste ponto que vale observar os últimos dias com atenção redobrada. A cobertura da denúncia foi um daqueles momentos em que uma parcela da imprensa fez o seu papel, ao lançar luz sobre pelo menos dois pontos importantes do espetáculo estrelado por Deltan Dallagnol: 1) a diferença entre a acusação verbal, a de chefe de uma organização criminosa, e a denúncia formal, a de corrupção e lavagem de dinheiro; 2) a escassez de provas para sustentar a denúncia. Uma parte da imprensa também fez seu papel ao mostrar que a frase atribuída ao procurador ? ?Não temos provas, mas temos convicção? ? não foi dita por ele.
Mas será que era a esta parcela da população, a que se informa por determinados jornais, que Dallagnol se dirigia ao fazer sua frenética dança na montanha? A apresentação da força-tarefa da Lava Jato foi transmitida por algumas TVs. O vídeo está no YouTube. Quantos milhões não viram apenas isso? O que vira ?verdade? nas redes? O que permanece como ?fato?? Qual é a ?realidade? que efetivamente se impõe?
É razoável supor que Deltan Dallagnol sabia o que fazia ao optar por uma acusação midiática diferente da denúncia formal. Quantos assistiram e assistirão a trechos em vídeo da fala espetaculosa e quantos lerão as 149 páginas da denúncia formal ou as críticas mais densas a ela? É na convicção de seus seguidores ? e não nas provas ? que Dallagnol parece apostar.
É bastante difundida a hipótese de que a fragilidade da denúncia deva ser comemorada pela defesa de Lula. No julgamento, sim. Mas e no justiçamento? Onde se ganha a fé das pessoas, a fé que vira voto, já que é também crença ? e não razão ? que hoje se pede aos eleitores? O impeachment de Dilma Rousseff , claramente sem base legal, mostra bem o que é determinante no resultado da disputa.
O espetáculo comandado pelo maestro Deltan Dallagnol levanta questões importantes. Qual é o impacto dessa atuação ? acusar sem apresentar as provas ? num país no qual ainda há tanta dificuldade de acesso à Justiça para vastas parcelas da população? Qual é o impacto deste exemplo, por parte de um servidor público com tanta expressão, no imaginário de uma sociedade que produz tantos linchamentos?
Essas questões são tudo menos banais. Se a Lava Jato tem que ser reconhecida pelos seus acertos, que são vários, é imperativo que ela responda pelos seus abusos, que também são vários, porque eles têm impacto e muito numa sociedade em que os discursos de ódio têm proliferado. Quando procuradores e juízes fazem justiçamentos em vez de justiça, o Estado de direito está ameaçado.
Há vários tipos de estupidez que costumam acometer figuras lançadas de repente ao centro do palco. Uma delas é a de acreditar na própria lenda. Ou na potência do seu protagonismo. A vaidade costuma fazer muitas vítimas. E há ainda aquela ilusão tão sedutora de se achar mais esperto do que todos os outros no jogo que pretende intervir. Já que a fé tem sido tão invocada por Deltan Dallagnol, talvez o procurador ?seguidor de Jesus? seja jovem demais para lembrar que o diabo sabe mais por ser velho do que por ser diabo. E, assim, olhar mais atentamente para todos os lados antes de se arriscar a pirotecnias. A começar para o lado de quem o elogia e o estimula ao espetáculo.
É fundamental para o país que a Operação Lava Jato continue. A prudência sugere desconfiar de unanimidades onde não costuma haver. Desqualificar a Lava Jato, neste momento, serve para muitos. Lula porque de fato virou réu e vai precisar se defender formalmente na Justiça. Com o agravante de que sua mulher, Marisa Letícia, também virou ré, o que é um golpe bastante duro. Mesmo que Lula não seja condenado na Justiça, porém, ele já foi condenado por parte da opinião pública. Deste ponto de vista, ainda que os acontecimentos dos últimos dias tenham mostrado que outras figuras estratégicas do PT poderão ser alcançadas pelas investigações, são seus oponentes que possivelmente tenham mais a perder neste momento.
Há muitos com medo de que a Lava Jato siga investigando e os transforme em réus. Assim, vale tudo, até se indignar contra os abusos da operação, indignação que não ocorreu em episódios claramente abusivos como o da ?condução coercitiva? de Lula ou o do vazamento dos diálogos de Lula com a então presidente Dilma Rousseff.
Quando até mesmo uma figura com a folha corrida do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), critica a Lava Jato dizendo que é ?preciso acabar com o exibicionismo?, é necessário ouvir a sirene. Este é o momento escolhido por diferentes personagens para enfraquecer a Lava Jato, com o objetivo de impedir que a operação prossiga em direção a outras lideranças e outros partidos e outros governos, no passado e no presente, para muito além do PT.
Há ainda a hipótese de que a Lava Jato tivesse desde sempre orientada para uma investigação seletiva. E não interesse nem a seus agentes que ela prossiga para além do ?grande general?. O espetáculo constrangedor da denúncia de Lula reforçou essa tese. Cabe aos policiais federais, procuradores e juízes mostrar que não têm partido nem ideologia na hora de investigar. Neste sentido, os próximos capítulos são decisivos para que a Lava Jato mostre a que veio.
O xadrez em torno da Lava Jato é intrincado. É preciso entender se, neste jogo, Deltan Dallagnol é bispo ou apenas um peão que acredita ser bispo. O que se pode afirmar é que, para a maioria dos brasileiros, é crucial que a Lava Jato continue avançando e de fato passe a limpo a relação entre poder público e empreiteiras, para muito além dos governos de Lula e de Dilma Rousseff. Essa relação é mais antiga do que a construção literal de Brasília. E define muito do país. Para isso, é preciso que policiais, procuradores e juízes sejam policiais, procuradores e juízes ? e não justiceiros nem heróis de Facebook.
Assim, antes de ?curtir?, é importante resgatar a experiência do pensamento, esta que nos diferenciou dos outros grandes primatas. Espantar-se, duvidar, questionar, checar e, principalmente, diferenciar o que é fato do que é versão antes de sair clicando e gritando. E tudo isso sem medo de enfrentar as contradições, resistindo mesmo que doa à tentação de contornar as verdades mais duras. Há muitos líderes ou aspirantes a líder dançando freneticamente na montanha para atrair seguidores.
Não siga. Pense.
Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes – o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e do romance Uma Duas Site: desacontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter: @brumelianebrum

Esclarecimento das frentes populares: 



“As Frentes não apoiam e nem participarão da manifestação convocada pelo Vem Pra Rua, um grupo de direita, golpista, que utiliza de forma demagógica e oportunista o suposto combate à corrupção. Financiado por organizações e partidos conservadores e instituições estrangeiras que objetivam impor ao Brasil o receituário neoliberal, eles são os mesmos que foram às ruas para defender o golpe, apoiar Eduardo Cunha e a perseguição política seletiva do Juiz Sérgio Moro, agente do imperialismo norte americano e das forças reacionárias internas.

No dia 04/12 estarão nas ruas aqueles que defendem que juízes e procuradores tenham plena liberdade para perseguirem quem desejar – seus alvos são predominantemente a esquerda e os movimentos sociais -, e que fiquem impunes quando comentem crimes.

Não compactuamos com a tese de quem votou a favor da emenda do abuso de autoridade seja caracterizado como a favor da corrupção e muito menos de que quem votou contra seja paladino da moralidade.

O Brasil não pode ser chantageado por uma casta de privilegiados que recebe salários acima do teto estabelecido pela constituição, para impor ao povo um poder não referendado nas urnas e com sinais claros de elementos do fascismo.

Os mesmos grupos que convocam a citada manifestação comemoraram a aprovação da PEC do fim do mundo e a violenta repressão aos movimentos sociais em Brasília aos estudantes e trabalhadores que lá protestavam contra o golpe à Constituição de 1988 no dia 29/11.

Portanto, é necessário esclarecer que diante de certa confusão gerada a partir de boatos nas redes sociais, que os trabalhadores, a juventude e os movimentos sociais em geral não irão se misturar com os patrocinadores do golpe de Temer e Cunha – os mesmos que estão na linha de frente da campanha pelas reformas da previdência e trabalhista e tantos outros ataques às conquistas do povo Brasileiro. Nosso lado é o da democracia e por ampliação de direitos.

A Frente Povo Sem Medo ocupará as ruas no DIA 13/12 com o lema: NÃO À PEC 55 E À REPRESSÃO AOS MOVIMENTOS SOCIAIS.

A proposta é persistir na luta para denunciar e derrotar a PEC da maldade e ao mesmo tempo protestar contra a violência que se abate sobre os manifestantes que estão nas ruas contra o golpista Temer e sua quadrilha.”

A jovem ficou de pé e disse: “Nesta madrugada um grupo de terroristas do Estado Mínimo e atiradores da elite, armados de microfones e mídias subvencionadas, tomou de assalto a constituição e sequestrou nosso futuro. A partir de hoje, eles pretendem nos prender ao presente nesta imensa desigualdade social e cultivar em nossas mentes a mesmice cotidiana de vidas sem desejo de mudança. Se olharem agora seus celulares o tempo já não passa mais, nenhuma notícia oficial mostrará o momento real em que vivemos, nada encontrarão além de fatos postados há horas e as ideias e projetos coletivos serão transformados em lixo e nossas intenções serão esvaziadas de história para se tornarem lendas urbanas. De nada adiantará procurarmos um calendário, porque todos eles foram confiscados por medida de segurança nacional, já que nada poderemos planejar para amanhã, para depois de amanhã ou para o próximo ano. Os sequestradores do tempo se aproveitaram da nossa fragilidade e em nome do presente imutável pela ordem do progresso revogaram algumas duras quase conquistas do passado, como a liberdade de amar, a igualdade feminina, o direito ao corpo e o fim da escravidão. Os agentes financeiros que invadiram nossa vida e ampliaram seu poder nesta madrugada, já anunciaram violenta repressão a todos que ousarem respirar em protesto e os adolescentes invasores de escolas públicas seremos presos e condenados à TV em solitárias e sofás domésticos até o momento mais adequado ao mercado para sermos transformados em cartões de créditos e produtos eletrônicos. Então, temos que escolher: aqueles a quem o medo faz aceitarem o congelamento do tempo pelos piratas da legalidade podem se retirar pacificamente desta ocupação e entregar seus sonhos na portaria. Quem permanecer precisará manter os olhos levantados para o horizonte, porque além daqueles muros o amanhã continuará existindo, a história não acabou. Nada temos a perder, a não ser a nossa esperança. ” Alguns se abraçaram em despedida. Outros começaram a caminhar em direção ao paredão construído com as pedras da lei, as tribunas de parlamentares, as barras de tribunais, os orçamentos de ministérios, as bombas de gás lacrimogênio, os milhares de policiais, seus brutos cassetetes e as duras balas de borracha. Apenas alguns raios de sol atravessam por frestas mínimas a fria barreira organizada por ternos, togas e uniformes militares, mas são suficientes para que todos saibam a direção da luz.

Dizem que os estudantes do ensino superior nas instituições públicas são mais ricos do que nas instituições privadas. Será verdade?

“A segregação econômica ocorre ao longo do processo educacional. No ensino superior, a elitização se manifesta pelo curso, não pela instituição (faculdade ou universidade). Por exemplo, as informações socioeconômicas obtidas nos Exames Nacionais de Desempenho de Estudantes mostram que estudantes de Engenharia e Medicina têm renda familiar cerca de 3 vezes superior à dos estudantes de Pedagogia. Entretanto, em qualquer um destes três cursos a renda familiar é MAIOR entre os estudantes das instituições privadas do que das públicas”.

Este e outros mitos da educação brasileira podem ser lindos no excelente artigo de Lighia B. Horodynski-Matsushigue, Marcelo T. Yamashita e Otávio Helene, professores da USP e da UNESP, um artigo interessantíssimo construído com dados do próprio Ministério da Educação e da UNESCO, e que foi publicado na edição atual do Le Monde Diplomatique Brasil, que está nas bancas.

“Entre os três países das Américas, apenas o Chile tem uma proporção de alunos em instituições privadas (de ensino superior) do que o Brasil.

A taxa de privatização média no mundo é metade da nossa.

Nos Estados Unidos, a situação é exatamente a inversa da brasileira: enquanto aqui temos mais do que 70% das matrículas no ensino privado, lá o setor público detém mais de 70% das matrículas.”

Segundo Lighia B. Horodynski-Matsushigue, Marcelo T. Yamashita e Otávio Helene, professores da USP e da UNESP, em artigo interessantíssimo construído com dados do próprio Ministério da Educação e da UNESCO, e que foi publicado na edição atual do Le Monde Diplomatique Brasil, que está nas bancas.