REVISÃO DO MÊS 01 – Avanços terapêuticos para os tumores das neurofibromatoses – Parte 6
Continuo hoje os comentários sobre a REVISÃO DO MÊS escrita pelos médicos Jaishri Blakeley e Scott Plotkin, da Faculdade de Medicina de Harvard, que foi publicada na revista Neuro-Oncology de fevereiro de 2016.
Depois de apresentar os critérios diagnósticos, principais complicações e mecanismos genéticos da NF1, os autores comentam que a NF1 oferece uma oportunidade de compreendermos alguns aspectos da formação de tumores em geral, conhecimento este que pode ser útil para o tratamento de outras doenças mais comuns.
Creio que este deve ser um dos motivos que fazem com que alguns laboratórios farmacêuticos se interessem pelas NF, porque haveria a possibilidade de desenvolverem algum medicamento para um número maior de pessoas do que aquelas acometidas pelas NF, que são doenças mais raras.
Ou seja, há um interesse financeiro nestas pesquisas que vai além do cuidado com as pessoas com NF, porque desde o avanço do liberalismo econômico mundial a saúde, que era considerado um direito das pessoas, vem se convertendo cada vez mais num produto a ser comercializado de todas as formas possíveis.
Neste rumo estão os estudos com neurofibromas plexiformes, gliomas ópticos e tumores malignos da bainha do nervo periférico (TMBNP), os quais sugerem que deve haver um efeito do ambiente celular que envolve a célula que dá início ao tumor. Ou seja, uma célula que perdeu completamente sua capacidade de produzir a neurofibromina somente começará a se reproduzir descontroladamente (tumor) se as demais células ao seu redor forem também parcialmente deficientes de neurofibromina.
Assim, o medicamento IMATINIBE, por exemplo, apresenta um potencial uso na NF1 porque em alguns estudos ele diminuiu o tamanho dos neurofibromas plexiformes, em camundongos (geneticamente modificados para NF1) e num determinado grupo de pessoas com NF1, por que a droga foi capaz de inibir a atividade de determinadas etapas da atividade celular dos mastócitos e células de Schwann que estão envolvidas na formação do tumor. Da mesma forma, outra substância, um tipo de interferon, mostrou alguma eficácia em gliomas ópticos e em neurofibromas plexiformes em outros estudos.
Outro aspecto das NF que interessa a indústria farmacêutica é o conhecimento de como acontecem as etapas na formação dos tumores. Por exemplo, geralmente os gliomas ópticos apresentam um risco maior de produzirem sintomas na infância e depois se tornam silenciosos clinicamente. Também os plexiformes têm uma fase de crescimento aumentado na infância, mas crescem menos na vida adulta.
Então, se a incapacidade de produzir neurofibromina (perda do segundo alelo) já aconteceu numa célula, por exemplo, na vida intrauterina, por que o tumor cresce mais numas fases e menos em outras? Estudos pré-clínicos sugerem que estas fases de ritmo diferente de crescimento dos tumores podem estar relacionadas ao processo de envelhecimento das células, mas o seu mecanismo ainda não é conhecido.
Em nosso Centro de Referência em Neurofibromatoses do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, a pesquisadora Cinthia Vila Nova Santana desenvolveu um estudo para testar uma parte desta hipótese (VER AQUI seus resultados).
Mesmo sem o conhecimento dos mecanismos de crescimento e da grande variedade de comportamento dos tumores na NF1, Blakeley e Plotkin concentraram sua revisão nas possibilidades terapêuticas atuais para os plexiformes. Eles selecionaram 21 estudos que experimentaram diferentes medicamentos em neurofibromas plexiformes depois de alguns resultados promissores obtidos em camundongos geneticamente modificados para NF1.
Amanhã comento as suas conclusões.