Tema 321 – Sistema nervoso e dor na NF1 – Novidades do Congresso de 2017

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Comentei em outras oportunidades algumas novidades do Congresso de NF de 2017 sobre o problema da dor nas NF (ver AQUI). Hoje trago mais um estudo sobre dor e NF1 que foi apresentado naquele evento pela Dra. Taryn M. Allen e colaboradores do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos.

Adaptei abaixo o texto do resumo apresentado.

Pessoas com NF1 e neurofibromas plexiformes e neurofibromas nodulares podem apresentar dor crônica.

Em pessoas sem NF1, um conjunto de novas informações científicas tem mostrado relações entre a dor persistente e o estado de ativação do sistema nervoso autonômico (aquele que cuida das funções involuntárias, como batimentos cardíacos, movimentos do intestino e outras).

Pessoas com dor crônica tendem a apresentar pouca variabilidade da frequência cardíaca, ou seja, o ritmo dos batimentos cardíacos varia pouco num determinado tempo, o que reflete o estado de ativação do seu sistema nervoso autonômico. A menor variabilidade no ritmo indica maior atividade simpática (mais adrenalina, em termos mais simples), e ao contrário, maior variabilidade na frequência cardíaca indica mais atividade parassimpática (menos adrenalina, digamos).

Essa menor variabilidade da frequência cardíaca está associada com maior dificuldade para se adaptar a situações de estresse físico e psicológico, chamada de baixa flexibilidade psicológica, e também ao menor controle emocional.

No entanto, nenhuma pesquisa havia medido ainda a variabilidade do sistema nervoso autonômico e os processos psicológicos em pessoas com NF1, então este grupo de pesquisadores resolveu estudar 16 adolescentes e adultos jovens com NF1 (média de 24 anos, 43% masculinos) com pelo menos um neurofibroma plexiforme e dor crônica.

Todos os voluntários responderam a questionários sobre sua dor e seu funcionamento psicológico e eletrocardiograma em repouso (posição supina por 5 minutos) para análise da variabilidade da frequência cardíaca. Oito semanas depois, repetiram os mesmos procedimentos.

Os resultados mostraram que menor variabilidade da frequência cardíaca também nas pessoas com NF1 está relacionada à menor flexibilidade psicológica e maior interferência da dor em suas vidas. No entanto, a intensidade da dor não se correlacionou com estas medidas da flexibilidade psicológica, embora quanto menor a variabilidade da frequência cardíaca maior foi a intensidade da dor.

Este foi o primeiro estudo a unir a dor crônica à variabilidade da frequência cardíaca e aos processos psicológicos em pessoas com NF1. Os dados mostraram que nos adolescentes e jovens adultos com NF1 a pouca flexibilidade psicológica influencia o sistema nervoso autonômico e este influencia a intensidade da dor.

Este estudo sugere a complexa relação entre os processos mentais e corporais na experiência da dor nesta população. Diante disso, tratamentos baseados em intervenções comportamentais e sobre o sistema nervoso autonômico podem ser úteis no manejo clínico da dor crônica nas pessoas com NF1, por exemplo, a terapia cognitivo-comportamental (ver aqui resultados desta terapia em pessoas com NF1 e dor crônica – em inglês: AQUI)