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“Sobre o meu neurofibroma na coxa, que é muito doloroso, para o qual o senhor pediu e foi feito o exame PET CT, que deu no limite da normalidade (algum risco de transformação maligna), o cirurgião acha que se retirar o neurofibroma eu perderei alguns movimentos. O que devo fazer? ” THS, Indaiatuba, SP.
Cara T. Obrigado pelo retorno e pela confiança na minha opinião.
De fato, muitas pessoas com neurofibromas nodulares (abaixo da pele, ovoides, firmes e muitas vezes dolorosos) têm dúvidas parecidas com a sua. Vou tentar explicar porque podemos retirar alguns destes neurofibromas sem perder os movimentos musculares.
Olhando para a figura acima, você percebe que o neurofibroma está localizado num ramo de um nervo (número 1) onde há fibras nervosas sensitivas (azuis), ou seja, que levam a sensibilidade da pele para o cérebro (veja as setas pretas) onde ela será percebida de forma consciente. Observe que, ao lado do nervo 1 com o neurofibroma, existe outro nervo sadio, que também leva sensibilidade para o cérebro (nervo 2).
Acontece que quando o neurofibroma se forma, o nervo fica impedido de funcionar, portanto, o nervo 1 já está sem função desde o início do crescimento do neurofibroma.
Já os movimentos, eles são realizados pelos músculos estimulados por nervos chamados motores (nervo 3). Geralmente eles não são afetados pelos neurofibromas que estão por perto. Por isso, se retirarmos apenas o neurofibroma sem tocarmos nos nervos motores, não haverá perda de movimentos. O nervo 1, que já estava inativo, não fará nenhuma falta depois da cirurgia.
No entanto, a maioria dos médicos procura retirar bastante tecido ao redor de qualquer tumor, com o receio natural de deixar alguma parte de um tumor maligno e ele voltar a crescer depois da cirurgia. Por isso, mesmo diante de um neurofibroma benigno, eles costumam ampliar a margem da cirurgia, o que pode atingir nervos sadios, inclusive nervos motores, o que pode resultar em perda de movimentos.
Por isso, temos pedido aos colegas cirurgiões que realizem apenas a remoção do neurofibroma que apresenta aumento do metabolismo no PET CT (como é o seu caso), tomando cuidado para não machucar os nervos vizinhos. Não há necessidade de retirar também linfonodos e outras estruturas próximas.
Então, qual seria a conduta mais adequada nestes casos? Abre-se a pele até atingir o neurofibroma, disseca-se apenas o neurofibroma e retira-se apenas ele. Como medida de segurança, pode-se fazer um corte do neurofibroma retirado (pelo método do congelamento) e examinar a lâmina no laboratório para ver se há sinais de malignidade.
Confirmando-se a benignidade (ou, no máximo, a forma chamada “atípica”, que acredito que deva ser seu caso, pelos exames clínicos e de imagem que já fizemos), simplesmente encerra-se a cirurgia. Se, numa eventualidade, ficar claro que há sinais de malignidade, a cirurgia pode se estender a outros tecidos nas proximidades do neurofibroma e que pareçam suspeitos aos olhos do cirurgião.
Compreendo que é difícil para os cirurgiões lidarem desta forma menos agressiva com os neurofibromas nas pessoas com NF1, porque no seu cotidiano eles estão acostumados a operar tumores mais invasivos e que precisam ser completamente removidos para que haja a cura da doença.
Espero que a pessoa que for realizar sua cirurgia possa ler este comentário e concordar com estas recomendações, as quais não são apenas minhas, mas dos especialistas em neurofibromatoses. Caso haja alguma dúvida, estou à disposição dela para uma conversa por telefone ou e-mail.
“Meu filho estava gripado e teve febre alta, levamos ele no Pronto
Atendimento e percebemos que na face onde tem o plexiforme estava sempre mais vermelho e quente. A enfermeira mediu a temperatura com um termômetro de ouvido e sempre apresentava temperatura maior no ouvido direito, que é onde tem o plexiforme, e a diferença era de pelo menos 0,7 graus maior. Ficamos lá por quase 5 horas em atendimento até conseguir baixar a febre, o médico já estava pensando que a febre tinha relação com o plexiforme. Então ficamos em dúvida, é normal o plexiforme durante a febre apresentar temperatura maior? Como vamos saber se a febre tem relação com o plexiforme e o que fazer?” MRP, do Paraná.
Cara M, obrigado pelas informações sobre seu filho.
De fato, o local do neurofibroma plexiforme recebe mais artérias e veias, ou seja, por ali circula mais sangue do que no restante das demais partes mais externas do organismo.
Desta forma, a temperatura no plexiforme se aproxima mais da temperatura interna do corpo (que fica em torno de 37 graus Celsius, sem febre), que é sempre maior do que a da pele (que fica em torno de 32 graus Celsius, na sombra). Assim, se colocarmos a mão sobre a região dos plexiformes mais superficiais, a nossa impressão (ou a medida com termômetro, como a enfermeira fez) é de que a região do plexiforme está mais quente (35 ou 36 graus) do que a pele ao redor.
A temperatura aumentada do plexiforme sem outro sintoma de inflamação (dor, inchação ou mudança da consistência) não é motivo de preocupação.
Ao contrário, um plexiforme que aumenta a temperatura, mas também acelera seu crescimento e apresenta dor (especialmente contínua e noturna) e mudança da consistência (tornando-se mais duro e firme), merece nossa preocupação, pois pode estar em curso a uma transformação maligna.
Sabemos que a transformação maligna é raríssima nas crianças, mas pode acontecer em cerca de 1 em cada plexiforme depois da adolescência ao longo de toda a vida. No entanto, esta transformação é mais comum nos plexiformes grandes, volumosos e profundos.
De qualquer forma, apenas a temperatura um pouco maior na pele sobre um neurofibroma plexiforme superficial não deve ser motivo de preocupação.
Até a próxima semana.