Menos diabetes nas pessoas com NF1: mostra nosso novo estudo publicado
Foi publicado nesta semana o artigo científico da nutricionista Aline Stangherlin Martins e colaboradores com os resultados da pesquisa que ela realizou em seu doutoramento no Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto, sob a orientação da professora doutora Ann Kristine Jansen e do professor doutor Nilton Alves de Rezende.
O artigo tem o título de “Increased insulin sensitivity in individuals with neurofibromatosis type 1” (Sensibilidade aumentada à insulina em pessoas com neurofibromatose do tipo 1) e foi publicado na revista científica Archives of Endocrinology and Metabolism (Arquivos de Endocrinologia e Metabolismo – ver AQUI o artigo completo em inglês ).
O estudo da Aline partiu de observações clínicas e experimentais realizadas no Centro de Referência em Neurofibromatoses do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (CRNF). Verificamos que até o momento não encontramos diabetes do tipo 2 (DM2) em pessoas com NF1 no CRNF, o que concorda com outros estudos (ver AQUI ).
Sabemos que o DM2 desenvolve-se geralmente na vida adulta e está associado à obesidade e ao sedentarismo. As pessoas com DM2 geralmente apresentam níveis aumentados da glicose sanguínea e também resistência à ação da insulina, um hormônio que promove a entrada da glicose nas células. A medida da resistência à insulina é considerada o melhor indicador laboratorial de provável desenvolvimento do DM2 no futuro.
Aline decidiu então estudar no seu doutorado esta questão, primeiro realizando uma revisão da literatura científica, que sugeriu uma menor ocorrência de DM2 nos indivíduos com NF1, como suspeitávamos.
Então Aline levantou a hipótese de que os indivíduos com NF1 pudessem apresentar menor resistência à insulina, ou seja, maior sensibilidade à insulina do que pessoas sem a doença. Baseada nessa hipótese, ela mediu as características metabólicas e nutricionais relacionadas à resistência à insulina em 40 pessoas com NF1 e comparou com 40 pessoas não afetados pela doença, mas semelhantes quanto à idade, sexo, índice de massa corporal e nível de atividade física.
Numa primeira etapa, Aline revisou os níveis de glicemia de jejum de indivíduos com NF1 atendidos no CRNF por meio de uma revisão dos prontuários médicos e comparou com uma amostra de participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA) pareados por sexo, idade e índice de massa corporal.
Os resultados desta primeira fase foram publicados AQUI.
Numa segunda etapa, Aline avaliou pessoas com NF1 e comparou com um grupo de pessoas sem a NF1 provenientes da comunidade. Todos os participantes foram submetidos à anamnese, avaliação da composição corporal por bioimpedância, avaliação dietética por meio de registro alimentar de três dias e coleta de amostras de sangue para avaliação dos níveis de glicemia, insulina, hemoglobina glicosilada, perfil lipídico e adipocitocinas.
Para avaliar a resistência à insulina foram utilizados os indicadores chamados de Homeostasis Model Assessment Insulin Resistance (HOMA-IR), Homeostasis Model Assessment Beta Cell Function (HOMA-Beta); Homeostasis Model Assessment Adiponectin (HOMA-AD), Quantitative Insulin Sensitivity Check Index (QUICKI) e Relação Adiponectina/Leptina (RAL).
Os resultados deste trabalho da Aline mostraram que os indivíduos com NF1 apresentaram menores níveis de glicemia e jejum, menos massa gorda, menos massa livre de gordura, menor percentual de gordura, menos água corporal, menores níveis plasmáticos de visfatina e HOMA-AD e maiores níveis de adiponectina e relação adiponectina/leptina do que os controles.
Todos estes dados indicam a maior sensibilidade à insulina e menor ocorrência de diabetes tipo 2 nas pessoas com NF1.
Este é o primeiro estudo científico a abordar essas questões em pessoas com NF1, contribuindo para compreensão dos seus problemas de saúde. Além disso, estas informações podem ajudar a compreensão do papel da insulina em outras doenças.
Os resultados da pesquisa já foram apresentados em dois pôsteres nos Estados Unidos na NF Conference nos anos de 2015 e 2016 e publicados em dois artigos científicos, o segundo deles é o que acaba de ser publicado.
Parabéns Aline por nos ajudar a compreender um pouco mais a NF1.