

Tenho a satisfação de receber no nosso blog uma pessoa que está sendo conhecida na comunidade NF pelo seu excelente trabalho de divulgação científica e humanitária sobre as NF no canal Enfermeira Rara, do qual tive a oportunidade de participar ontem (ver abaixo).
Com a palavra, Milena!
Dr Lor
Olá! Sou a Milena, enfermeira, tenho Neurofibromatose tipo 1, motivo da minha pesquisa de mestrado, sou mestre em Psicologia da Saúde, além de autora do livro “Neurofibromatose: Mapeamento de Associações, Instituições e Serviços Existentes no Brasil”.
Sou natural de Votuporanga, interior de São Paulo, e atuo há mais de 10 anos na área da Saúde Mental, trabalhando em um CAPS II. Posso dizer que, além da minha paixão pela psiquiatria, também me descobri encantada pelo universo da genética.
Durante minha participação em grupos de WhatsApp, percebi a grande necessidade de levar informações baseadas em ciência, com o apoio de profissionais renomados no assunto, para um público mais amplo.
Foi então que enxerguei a oportunidade de usar a internet como ferramenta de divulgação* e de apoio às pessoas que convivem com a Neurofibromatose, uma doença rara e ainda pouco conhecida — inclusive entre profissionais da saúde.
Em uma conversa com um amigo de trabalho, surgiu a ideia de criar um canal no YouTube, e assim nasceu o meu “xodó”: o canal *Enfermeira Rara*, um espaço criado com muito carinho para compartilhar conhecimento, histórias reais e experiências transformadoras.
No meu canal você vai encontrar lives com especialistas, depoimentos pessoais e conteúdos educativos sobre o universo das doenças raras.
Meu objetivo é informar, acolher e conectar pessoas — pacientes, familiares e profissionais — que desejam aprender mais sobre essa causa.
Lá, conversamos sobre Neurofibromatose de forma leve, acessível e embasada, compartilhando informações, histórias de vida, depoimentos e lives com profissionais de excelência que dominam o tema.
Tem sido uma experiência incrível! O canal me proporcionou conhecer pessoas maravilhosas, dispostas a fortalecer essa rede, e profissionais comprometidos* em divulgar conhecimento de qualidade.
Se você ainda não conhece, *corre lá e se inscreva*! LINK
Você vai encontrar vídeos com meus depoimentos pessoal, além de todas as lives gravadas, repletas de conteúdo e aprendizado.
Aproveito para agradecer a todos os profissionais que aceitaram o meu convite até aqui, ao apoio da minha família e, especialmente, ao John, que está por trás das câmeras tornando tudo isso possível.
Com carinho,
Rosângela Milena da Silva
Enfermeira Rara
Veja a live de ontem

Tenho recebido frequentemente perguntas sobre se as pessoas com NF1 podem se submeter a alguns procedimentos como acupuntura, quiropraxia e osteopatia para tratamento de dores.
Não conheço (ainda) nenhum estudo cientificamente bem conduzido que possa me permitir uma resposta segura se elas podem ou não afetar a saúde das pessoas com NF1.
Assim, o que posso sugerir é cautela, porque estes métodos apresentam eficácia questionável para tratamento da dor, mesmo nas pessoas SEM NF1.
Da mesma forma, outros procedimentos estéticos como tatuagem, injeção botulínica (Botox) e depilação a laser, também não possuem estudos científicos sobre seus riscos em pessoas com NF1.
Portanto, minha sugestão geral é: evitar até que tenhamos informações científicas seguras.
Dr Lor

Temos a satisfação de apresentar a todas as pessoas que têm contribuído financeiramente com a AMANF as nossas contas dos últimos 12 meses.
Somos gratos a todas as contribuições realizadas, não importa o valor, pois cada uma delas contribuiu em:
Graças à solidariedade de tantas pessoas, temos conseguido sustentar nossas ações básicas e apoiar pessoas com NF e seus familiares, mas a expansão de nossas atividades depende de novos recursos.
Por exemplo, planejamos para o próximo ano:
Por isso, sua contribuição é e sempre será fundamental para que possamos continuar nosso trabalho solidário.
SOMOS MUITAS PESSOAS, MAS VOCÊ É INDISPENSÁVEL!

A AMANF tem a satisfação de apresentar o trabalho do Daniel Maier dos Santos, estudante de Biomedicina na Unisinos no Rio Grande do Sul, que viajou até São Paulo para apresentar seu trabalho de pesquisa no encontro científico chamado Simpósio Next Frontiers do AC Camargo (https://accamargo.org.br/
Daniel, que tem um irmão com NF1 (clique para saber mais dessa história de amor fraterno), fez uma vaquinha (da qual a AMANF fez parte) para poder viajar até São Paulo e participou de uma mesa redonda (clique aqui para ver).
O interesse de estudantes pelas NFs (NF1, e Schwannomatoses) é a nossa esperança de um dia podermos descobrir a cura (ver aqui mais informações sobre a busca do Daniel pela cura do irmão) e cuidarmos cada vez melhor das pessoas com NFs.
Parabéns, Daniel, e conte com nosso apoio para suas novas jornadas.
Dr Lor

Um estudo científico bem conduzido na Austrália pelo grupo da Dra. Kathryn N. North avaliou o comportamento de crianças e adolescentes com neurofibromatose do tipo 1 (NF1), transtorno no espectro do autismo (TEA) e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e observou que estas 3 condições apresentam em comum o chamado transtorno do processamento sensorial (TPS) (ver aqui artigo completo em inglês).
Este texto recebeu a leitura e sugestões da Fernanda Siqueira (neuropsicopedagoga) e do Nilton Alves de Rezende (professor de medicina da UFMG).
Que ele seja útil à nossa comunidade NF!
Dr. Lor
Introdução
Para compreendermos bem o artigo australiano, precisamos lembrar como os estímulos (luz, som, calor, vibração etc) são percebidos pelos sensores do corpo (nervos nos olhos, orelhas, pele, músculos etc) para que sejam processados no cérebro de forma adequada para criar comportamentos que permitam a vida.
Como os estímulos são percebidos?
Para um estímulo qualquer ser percebido, ele precisa atingir um sensor (ou receptor) que seja sensível a ele. Por exemplo, a retina tem sensores para a luz, mas a pele não. Ao contrário, a pele tem sensores para o calor, mas a retina, não.
Quanto mais forte o estímulo, por exemplo, um som mais alto, mais ele ativa o sensor correspondente, no caso do som o sistema auditivo, que transmite um sinal para o cérebro, onde ele é processado (ver abaixo) para gerar uma resposta comportamental adequada àquele som.
Por outro lado, quanto mais sensível for um sensor, mais intensamente ele perceberá o estímulo. Por exemplo, um sistema auditivo mais sensível perceberá até os sons mais baixos e sutis.
A sensibilidade de cada sensor ao seu estímulo específico pode variar de acordo com a frequência com que o sensor está sendo estimulado. Quanto mais “novidade” for um estímulo, maior a sensibilidade do sensor. Quanto mais repetido for o estímulo, menor a sensibilidade do sensor.
A sensibilidade do sensor num certo momento é chamada de limiar de sensibilidade.
A medida do limiar da sensibilidade é a intensidade necessária para o estímulo ser percebido. Um limiar baixo significa que um pequeno estímulo ativa o sensor; um limiar alto significa que é preciso um estímulo mais forte para ativar o sensor.
Em resumo, quanto mais baixo o limiar, menor será o estímulo necessário para a criança sentir e reagir a ele (fenômeno chamado de sensibilização).
Quanto mais alto o limiar, maior será o estímulo necessário para a criança sentir e reagir a ele (fenômeno chamado de habituação).
Crianças com limiares sensoriais baixos são facilmente estimuladas por coisas que geralmente não incomodam as crianças neurotípicas. Por exemplo, crianças com NF1 podem ter maior sensibilidade tátil e por isso evitar andar descalças na grama ou areia ou expressar desconforto ou dor quando alguém escova seu cabelo.
Crianças com limiares sensoriais altos apresentam dificuldade para serem estimuladas por coisas que geralmente são percebidas pelas crianças neurotípicas. Por exemplo, crianças com NF1 podem demorar para perceber que estão chamando pelo seu nome ou não ter consciência do toque de outra pessoa, a menos que seja mais intenso.
O que é o processamento sensorial?
O processamento sensorial é a capacidade do sistema nervoso de detectar, integrar, modular e interpretar todas as informações captadas pelos diversos sensores que foram ativados pelos estímulos que nos chegam do ambiente e do nosso próprio corpo. As informações sensoriais processadas no sistema nervoso central, que permitem nossa adaptação ao ambiente, são:
A integração de todas estas informações sensoriais é que nos permite reagir adequadamente às variações internas e do ambiente. Elas são utilizadas pelo sistema nervoso para que possamos perceber de forma contínua o nosso próprio corpo num determinado ambiente físico, assim como os indicadores e regras sociais para que nosso comportamento seja adequado a cada momento, em cada grupo de pessoas ou numa sociedade.
O que é o transtorno de processamento sensorial?
Quando as informações sensoriais são percebidas para mais ou para menos do que deveriam ser, a sua integração no sistema nervoso pode se tornar incorreta, gerando respostas comportamentais inadequadas, que são os Transtornos do Processamento Sensorial (TPS).
O estudo australiano mostrou que estes estímulos sensoriais podem ser percebidos em intensidades incorretas nas crianças com NF1, TDAH e TEA:
A resposta comportamental aos estímulos sensoriais também pode variar nas as crianças com NF1, TDAH e TEA:
Cada criança com TPS apresenta comportamentos que misturam as características descritas acima. Por exemplo, uma criança pode ser muito sensível aos estímulos auditivos e reagir passivamente a eles com grande ansiedade, mas, ao mesmo tempo, ser pouco sensível aos estímulos táteis e reagir ativamente a eles procurando o contato com pessoas ou objetos frequentemente.
Ao contrário, outra criança pode ser pouco sensível aos estímulos auditivos e reagir ativamente buscando estímulos sonoros e fazendo barulho o tempo todo, mas, ao mesmo tempo, ser muito sensível aos estímulos táteis e reagir ativamente a eles evitando o contato com outras pessoas, certos tipos de roupas ou calçados.
O estudo australiano mediu o processamento sensorial auditivo, tátil, visual, oral, da posição corporal e do movimento nas crianças com NF1, TEA e TDAH e comparou com crianças neurotípicas. O resultado do estudo mostrou que o TPS foi observado em cerca de 60% das crianças com NF1, TEA e TDAH.
Sensibilidade aos estímulos e resposta comportamental
Podemos incorporar as definições anteriores num quadro que combina o nível de sensibilidade para determinado estímulo (para mais ou para menos) com a reação comportamental da criança (ativa ou passiva).
É o chamado Modelo de Quatro Quadrantes de Processamento Sensorial de Dunn. Este modelo, que se baseia em dados comportamentais e neurocientíficos, propõe que as crianças têm limiares neurais únicos para responder a informações sensoriais, que, por sua vez, afetam a forma como elas respondem ao seu ambiente cotidiano.
Respostas ativas ou passivas
A resposta de uma criança a um estímulo sensorial pode ser por meio de um comportamento ativo – agindo para aumentar ou reduzir o estímulo, – ou por meio de um comportamento passivo – ignorando o estímulo ou reagindo apenas internamente.
Combinando os limiares altos e baixos com as respostas ativas e passivas, temos o Modelo de Quatro Quadrantes de Processamento Sensorial de Dunn (abaixo).
| Baixa sensibilidade
(limiar alto) |
Alta sensibilidade
(limiar baixo) |
|
| Reação ativa
tenta controlar o estímulo |
A | B |
| Reação passiva
ignora o estímulo ou reage internamente |
C | D |
Exemplos de uso do quadro (aqui apenas com estímulos auditivos, mas poderiam ser quaisquer outras modalidades de estímulos sensoriais):
No tipo A, seria uma criança que percebe pouco os estímulos sonoros e reage ativamente aumentando o som ou produzindo barulhos.
No tipo B, seria uma criança que percebe muito os estímulos sonoros e reage ativamente com redução do som, fuga, aversão ou tampando as orelhas.
No tipo C, seria uma criança que percebe pouco os estímulos sonoros e reage passivamente, sem resposta.
No tipo D, seria uma criança que percebe muito os estímulos sonoros e reage passivamente com manifestações internas de ansiedade e mal-estar.
Uma mesma criança com NF1 pode ser, por exemplo, do tipo A para estímulos sonoros, mas ser do tipo C para estímulos visuais.
Assim, o transtorno no processamento sensorial pode afetar significativamente a forma como uma criança responde e funciona em seu ambiente, resultando em comportamentos desafiadores, ansiedade, poucas habilidades adaptativas, poucas interações sociais, atraso no desenvolvimento da linguagem, redução no desempenho motor e acadêmico.
Esse impacto é exemplificado em indivíduos com TEA, que apresentam respostas atípicas a estímulos sensoriais em mais de 70% das crianças. As diferenças de processamento em crianças com TEA são relatadas em todas as modalidades sensoriais, incluindo domínios táteis, visuais e auditivos, com hipo e hiper-responsividade relatadas. Essas diferenças podem ter um impacto considerável nas interações sociais e no funcionamento do dia-a-dia. A hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais é considerada um sintoma central do autismo, conforme conceituado pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª Edição – Revisão de Texto (DSM-5-TR), com alguns estudos sugerindo dificuldades de processamento sensorial, como hiper-responsividade ao som ou toque, podem estar entre os primeiros indicadores de TEA.
O estudo australiano
Depois da introdução acima, podemos retomar o estudo realizado pela equipe da Dra. Kathrin North. Apesar de haver outras modalidades de informações sensoriais, o estudo avaliou especificamente as auditivas, visuais, táteis, relacionadas ao movimento, posição corporal e orais (tato, paladar e olfato). Traduzimos e adaptamos algumas das partes do estudo, aquelas que nos pareceram mais úteis às pessoas leitoras sem formação biológica.
Em resumo, a equipe partiu da verificação que as dificuldades no processamento sensorial são freqüentemente encontradas em distúrbios do neurodesenvolvimento e podem afetar significativamente a forma como uma criança responde e funciona em seu ambiente. Porém, os estudos que examinam o processamento sensorial em crianças com neurofibromatose tipo 1 (NF1) são escassos. Então, o estudo examinou o processamento sensorial relatado pelos pais em uma amostra de 152 crianças com NF1.
Este estudo foi concebido para caracterizar o perfil de processamento sensorial de crianças com NF1. Abordamos três objetivos principais neste estudo:
(i) examinar a proporção de indivíduos com NF1 exibindo respostas incomuns a estímulos sensoriais em comparação com crianças com desenvolvimento típico (DT);
(ii) examinar o processamento sensorial, incluindo estilos e modalidades de resposta, de crianças com NF1 em comparação com um grupo controle de DT; e
(iii) examinar a associação entre características de processamento sensorial e idade, sexo e medidas dimensionais quantitativas de funcionamento intelectual, comportamentos autistas, sintomas de TDAH, sintomas internalizantes, habilidades sociais e funcionamento adaptativo.
Os pais/cuidadores de 152 crianças com NF1 e 96 crianças com desenvolvimento típico preencheram um questionário chamado Perfil Sensorial 2 (SP2), juntamente com questionários padronizados avaliando comportamentos autistas, sintomas de TDAH, sintomas internalizantes, funcionamento adaptativo e habilidades sociais. O funcionamento intelectual também foi avaliado.
O Perfil Sensorial 2 (SP2) [2] é um questionário de 86 itens para pais/cuidadores projetado para avaliar a função sensorial. Os itens são medidos em uma escala de 5 pontos que varia de “quase sempre” a “quase nunca”. O SP2 fornece um perfil sensorial de quatro quadrantes (de Dunn, ver acima): busca sensorial, hipersensibilidade, evitação sensorial e baixo registro.
Os dados do SP2 indicaram importantes problemas de processamento sensorial em crianças com NF1 em comparação com crianças com desenvolvimento típico. Mais de 40% das crianças com NF1 apresentaram diferenças no registro sensorial (falta de entrada sensorial) e foram incomumente sensíveis e evitativas a estímulos sensoriais.
Aproximadamente 61% das crianças com NF1 apresentaram diferenças na forma como respondem a estímulos sensoriais quando comparadas a um grupo controle com desenvolvimento típico (Figura 1).Essas dificuldades foram observadas igualmente em todas as idades e sexo e foram associadas a um maior grau de comportamentos autistas, sintomas de TDAH, habilidades adaptativas mais baixas, habilidades sociais mais pobres e aumento da ansiedade e sintomas afetivos.
Figura 1. Porcentagem de NF1 e participantes de controle com desenvolvimento típico que excedem a faixa normal no SP2. Seeking busca ativa (Tipo A); Avoidance : evitação ativa (Tipo C); Hypersensitive: limiar baixo (Tipo D); Registration: limiar alto (Tipo B); Colunas cinza: transtornos mais presentes do que nas outras crianças; Colunas pretas: transtorno muito mais presente do que nas outras crianças.
Estes resultados destacam a importância de enfrentarmos as dificuldades de processamento multissensorial em casa e na escola ao decidirmos como apoiar uma criança com NF1 em todos os ambientes.
Discussão
Embora normalmente classificada como uma síndrome de predisposição tumoral, as complicações mais comuns em crianças com NF1 são dificuldades com o funcionamento social, comportamental, acadêmico e cognitivo. Aproximadamente 30-50% das crianças com NF1 atendem aos critérios para transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), até metade exibe comportamentos autistas e aproximadamente 25% atendem aos critérios diagnósticos para autismo, todos associados a dificuldades de processamento sensorial.
Apesar da alta prevalência dessas dificuldades de neurodesenvolvimento, os estudos que examinam o processamento sensorial em crianças com NF1 são escassos. As evidências recentes sugerem diferenças na forma como os bebês com NF1 processam informações auditivas, o que tem sido associado ao surgimento posterior de traços autistas. Alterações no processamento auditivo, incluindo a percepção das características temporais de um som, também foram detectadas em crianças com NF1, com algumas encontrando uma relação entre essas diferenças e funções, incluindo o grau de comprometimento da linguagem e distúrbio de comunicação e processamento fonológico.
Embora o estudo de sistemas sensoriais isolados (som ou visão ou tato etc.) dentro de uma condição genética forneça conhecimento valioso, a integração multissensorial é necessária para muitas funções, incluindo comunicação e linguagem.
Aumentar a conscientização não apenas sobre a gama de modalidades afetadas na NF1, mas também sobre o perfil sensorial e as respostas comportamentais relacionadas aos sentidos, será importante para informar e identificar intervenções sensoriais eficazes para crianças com NF1.
Este é o primeiro estudo a apresentar o perfil dos comportamentos em relação aos estímulos sensoriais em crianças com NF1 e sua associação com as características e funcionamento da criança.
Com exceção da modalidade visual, as crianças com NF1 apresentaram níveis mais altos de respostas incomuns a estímulos sensoriais em todas as dimensões de responsividade e modalidades sensoriais do que os controles DT.
Os tamanhos de efeito foram moderados a grandes. Essas dificuldades foram observadas igualmente em toda a faixa etária do estudo (3 a 15 anos) e em ambos os sexos. O risco relativo de desenvolver problemas de processamento sensorial foi de 3 a 9,6 vezes maior para crianças com NF1 em comparação com os controles DT, com hipersensibilidade considerada o maior risco, seguida por baixo registro, evitação sensorial e busca sensorial. Aproximadamente 61% das crianças com NF1 tiveram uma ou mais modalidades impactadas, com dificuldades comumente ocorrendo em várias modalidades e em várias áreas de responsividade.
Esses resultados sugerem que, se uma criança com NF1 tiver desafios de processamento sensorial, é provável que eles ocorram em várias áreas do processamento sensorial.
Eles podem ser sensoriais em busca de estímulos, ter baixo registro, evitar estímulos sensoriais e, ao mesmo tempo, ser hipersensíveis a estímulos sensoriais, pois esses padrões não são mutuamente exclusivos Por exemplo, uma criança com NF1 pode buscar entrada tátil brincando com materiais texturizados, mas, ao mesmo tempo, ter dificuldade em registrar certos sons. A mesma criança também pode evitar texturas específicas, como certas roupas, e ser sensível a ruídos altos.
Ao considerar como apoiar efetivamente as crianças com NF1, médicos, pais/cuidadores e educadores devem levar em consideração o processamento multissensorial e observar que o padrão de processamento sensorial de cada criança é único e pode variar em diferentes situações.
Observamos uma relação moderada a forte entre os escores SP2 e comportamentos autistas e sintomas de TDAH no estudo atual. Isso demonstra que crianças com NF1 que apresentam dificuldades de processamento sensorial também são mais propensas a exibir comportamentos autistas e sintomas de TDAH e sugere que as dificuldades de processamento sensorial são uma parte importante do fenótipo de neurodesenvolvimento da NF1.
Os resultados também demonstram um perfil de processamento sensorial semelhante na NF1 aos relatados em crianças com TDAH e TEA. Ou seja, todos os três grupos apresentam dificuldades com evitação sensorial, sensibilidade, registro e busca.
Embora a magnitude das dificuldades de registro tenha sido semelhante entre os três grupos, houve graus ligeiramente diferentes de gravidade entre os grupos para sensibilidade e evitação. Essas semelhanças nos perfis sensoriais podem fornecer informações sobre mecanismos subjacentes compartilhados.
O estilo sensorial de registro, para o qual uma magnitude semelhante de dificuldades de registro é experimentada em crianças com NF1, TEA e TDAH, reflete o grau em que as crianças se orientam ou “sintonizam” os estímulos ambientais. Uma criança com baixo registro pode apresentar falta de resposta ao seu nome ser chamado ou pode não responder ou se orientar adequadamente para estímulos sociais (rostos). Em teoria, uma criança pequena que não responde abertamente a novos estímulos sensoriais e sociais perde oportunidades de aprendizagem que são fundamentais para o desenvolvimento da comunicação social e habilidades adaptativas.
Uma explicação potencial para as dificuldades de registro (ou seja, hiporresponsividade) em crianças com NF1, que também foi sugerida para crianças com TDAH e TEA, pode estar relacionada a mecanismos de atenção alterados. A orientação comportamental é uma medida da capacidade de resposta de uma criança a novas informações sensoriais e teoriza-se que seja impulsionada pela interação com redes de atenção frontoparietal dorsal “de cima para baixo” e frontoparietal ventral “de baixo para cima”.
Supõe-se que essas redes de atenção sejam diferentes em indivíduos com autismo, potencialmente levando a uma tendência reduzida de orientar e atender a estímulos sociais. A evidência de um estudo de ressonância magnética funcional (fMRI) baseado em tarefas em crianças com NF1 indica diferenças semelhantes nas redes neurais associadas à orientação para estímulos sensoriais, sugerindo que anormalidades nessas redes neurais podem levar a uma orientação atencional ineficiente ou defeituosa da informação sensorial.
A fMRI em estado de repouso também pode ser uma ferramenta valiosa no exame dessas redes neurais e como elas se relacionam com o comportamento compartilhado entre os grupos de diagnóstico. As evidências indicam que cada domínio sensorial (registro, busca, sensibilidade e evitação) está associado a um padrão distinto de conectividade funcional intrínseca do cérebro. O baixo registro, por exemplo, tem sido associado a diferenças na conectividade nas redes frontoparietal e visual em crianças com TEA e TDAH. Embora diferenças na conectividade funcional tenham sido observadas em crianças com NF1, estudos futuros que examinam as relações entre respostas sensoriais e padrões de conectividade entre grupos (NF1, TEA e TDAH) podem nos ajudar a entender a sobreposição de sintomas sensoriais – circuitos neurais e relações de sintomas de TEA e TDAH entre os diagnósticos.
Alinhados com o estudo australiano, os estudos eletrofisiológicos da atividade cerebral humana indicaram que diferenças sensoriais na NF1 provavelmente ocorrerão em vários sistemas sensoriais. Dentro da visão, potenciais evocados visuais anormais e respostas de eletroencefalografia (EEG) foram relatados, com achados sugestivos de diferenças relacionadas à NF1 nos estágios posteriores do processamento visual e amplitude aumentada de oscilações alfa apoiando déficits no processamento sensorial básico em NF1. Recentemente, Begum-Ali e colaboradores (2021) usaram EEG para medir as respostas evocadas auditivas em bebês com NF1. Em relação aos controles, os lactentes com NF1 demonstraram uma latência prolongada ao apresentar uma resposta neural diferenciada ao detectar alterações nos estímulos auditivos. Isso sugere uma resposta atípica aos estímulos auditivos muito precocemente no desenvolvimento de crianças com NF1.
Modelos laboratoriais com animais com NF1 também fornecem uma oportunidade para estudar os mecanismos celulares e moleculares subjacentes às dificuldades sensoriais nas crianças com NF1. Os dados comportamentais e fisiológicos recentes em moscas drosófilas revelaram que a perda de Nf1 em neurônios sensoriais periféricos leva a erros de processamento sensorial. É importante ressaltar que esses erros contribuem para a detecção e / ou processamento prejudicado das pistas sociais, levando a déficits sociais na mosca com NF1. Isso sugere que um fluxo interrompido de informações sensoriais pode contribuir para efeitos no comportamento na NF1.
Apoiando essa ligação entre o gene NF1 e o processamento sensorial, Dyson e colaboradores (2022) mostraram que a perda de Nf1 em mosca drosófila resultou em hipersensibilidade tátil, que foi associada a déficits de transmissão sináptica dependentes de Ras indicativos de hiperexcitabilidade neuronal. Será importante para pesquisas futuras desenvolver resultados de processamento sensorial relevantes para a tradução para a clínica, que unam estudos em humanos e animais, para ajudar a entender melhor as vias causais dessas manifestações clínicas.
Os achados deste estudo têm implicações importantes para o manejo de crianças com NF1 e para o desenvolvimento de intervenções que visem apoiar seu funcionamento global. Embora o exame de transtornos de ansiedade e humor em crianças com NF1 tenha sido relativamente negligenciado, diversos estudos relatam aumento da ansiedade e dos sintomas depressivos em comparação com os controles de DT. Embora esses sintomas sejam considerados multifatoriais na etiologia, nossos resultados sugerem uma relação entre dificuldades de processamento sensorial e ansiedade e sintomas afetivos, indicando que eles podem ocorrer de forma associada em crianças com NF1. As dificuldades de processamento sensorial podem ter um papel na compreensão da prevalência aumentada de ansiedade e sintomas afetivos relatados na NF1 e destacam a importância de apoiar uma criança que experimenta diferenças de processamento sensorial.
Houve também várias relações moderadas a fortes observadas entre os domínios sensoriais e o comportamento funcional, incluindo habilidades adaptativas e habilidades sociais no estudo atual. Esses achados apóiam a literatura que relata uma estreita associação de dificuldades de processamento sensorial com limitações funcionais na vida diária e destacam ainda mais a importância de tratarmos as dificuldades de processamento sensorial na escola e em casa.
Educadores e profissionais da saúde devem levar em consideração o processamento multissensorial ao decidir como apoiar uma criança com NF1 em todos os ambientes. Os pais de crianças com NF1 e que apresentam dificuldades de processamento sensorial devem receber informações e recursos sobre comportamentos de processamento sensorial para garantir que estratégias de apoio sejam implementadas em todos os contextos.
As intervenções de processamento sensorial geralmente envolvem a criança em estratégias projetadas para treinar novamente os sentidos, incluindo auditivo, visual, tátil, proprioceptivo, oral, olfativo, vestibular e interoceptivo (o sentido envolvido na detecção de regulação interna, como frequência cardíaca e respiração).
Ainda precisamos esclarecer as incertezas sobre o resultado das intervenções sensoriais nas crianças com NF1. A evidência da eficácia dessas intervenções em outras condições de desenvolvimento, como o TEA, ainda é um trabalho em andamento, com a evidência geral limitada devido à falta de estudos de intervenções em larga escala.
Alguns efeitos positivos, no entanto, foram publicados apoiando a Intervenção de Integração Sensorial Ayres como uma intervenção baseada em evidências para problemas sensoriais no autismo. Esta intervenção individualizada baseada em jogos lúdicos utiliza atividades sensório-motoras que abordam dificuldades específicas identificadas em uma avaliação, que estão ligadas ao funcionamento da vida. Pesquisas futuras envolvendo ensaios clínicos em larga escala dentro de uma estrutura baseada em evidências são necessárias para determinar a eficácia dessa abordagem em geral, bem como em crianças com NF1.
Este estudo, como todo estudo científico, possui limitações. Embora o relatório dos pais ofereça uma avaliação ecologicamente válida do processamento sensorial na vida diária, ele se baseia apenas nas observações dos pais, e não nas experiências subjetivas da criança. A coleta de dados de vários informantes, incluindo a criança, pode fornecer uma melhor compreensão das diferenças de processamento sensorial em crianças com NF1. Estudos futuros que combinam paradigmas de processamento sensorial direcionados à criança (por exemplo, processamento auditivo de baixo nível ou EEG) e avaliação comportamental (SP2) podem fornecer informações sobre como as anormalidades nos sistemas sensoriais podem estar relacionadas aos perfis comportamentais do processamento sensorial.
Em resumo, os resultados deste estudo indicam que crianças com NF1 têm até nove vezes mais chances de experimentar diferenças no processamento sensorial do que seus pares não afetados. Além da visão, todas as modalidades sensoriais são afetadas, e o perfil de processamento sensorial da NF1 é amplamente semelhante ao de crianças com autismo e TDAH, mostrando evitação, sensibilidade, registro e dificuldades de busca, embora em diferentes graus de gravidade.
Dificuldades de processamento sensorial em crianças com NF1 podem levar a alterações comportamentais, como mau contato visual, evitação de locais ruidosos, ansiedade e reciprocidade social prejudicada, o que pode impactar no funcionamento diário.
Os modelos experimentais de animais com NF1 também apresentam deficiências no processamento sensorial que estão ligadas a déficits sociais, o que pode nos ajudar a entender os mecanismos de hiper/hiposensibilidade sensorial.
Como os déficits sensoriais são relativamente os mais tratáveis dos mecanismos do circuito e aparecem no início do desenvolvimento da NF1, o domínio sensorial é promissor para revelar mecanismos que podem contribuir para o desenvolvimento de dificuldades comportamentais de nível superior na NF1, como comprometimento social, mas também pode fornecer uma plataforma translacional não apenas para desenvolver biomarcadores, mas também para facilitar a busca contínua por novas abordagens terapêuticas na NF1.

O Ministério da Saúde (ver abaixo os documentos) negou a incorporação do selumetinibe ao rol de medicamentos do Sistema Único de Saúde (SUS) a serem oferecidos aos pacientes com NF1.
O Relatório Final CONITEC (ver abaixo o link) considerou que a relação entre o custo e o benefício – ao longo dos anos de tratamento – para a incorporação do medicamento ao SUS permaneceu muito acima dos limites adotados pelo sistema.
A análise econômica mostrou que o impacto orçamentário ultrapassaria R$ 280 milhões em cinco anos, o que levou o comitê a recomendar, por maioria, a não incorporação da tecnologia, diante da incerteza dos resultados e dos desafios de sustentabilidade do sistema público.
Diante da decisão, resta aos pacientes que não tenham condição financeira de fazer a aquisição direta, a via judicial para obtenção do medicamento, especialmente nos casos em que o selumetinibe representa uma alternativa capaz de reduzir os neurofibromas sintomáticos e melhorar a qualidade de vida de pessoas com formas mais graves e inoperáveis da doença.
Fontes:

Uma parte das pessoas com NF1 apresenta ossos mais fracos do que a população sem NF1 de mesmo sexo e idade. A Vitamina D participa da formação sadia dos ossos, então, há muitos anos temos nos preocupado se os níveis de Vitamina D nas pessoas com NF1 estão adequados.
Com esta mesma preocupação, um grupo de pesquisadoras italianas, lideradas pela Dra. Claudia Riccardi, publicaram o maior estudo já realizado sobre este assunto (454 referências bibliográficas) na revista Cancer, com o título: “Compreendendo as atividades biológicas da Vitamina D na Neurofibromatose do tipo 1: novos entendimentos sobre o desenvolvimento da doença e métodos de tratamento” (clique aqui para ver aqui ao artigo completo em inglês).
O artigo reúne praticamente tudo que sabemos sobre Vitamina D e NF1, inclusive cita três estudos realizados em nosso Centro de Referência em Neurofibromatoses, abordando as relações da Vitamina D com neurofibromas, com a redução da força muscular e com os ossos mais fracos.
A principal conclusão deste vasto estudo é que ainda precisamos estudar melhor o papel da Vitamina D na NF1, mas há conhecimentos suficientes para justificar a atenção clínica permanente com o objetivo de manter níveis adequados de Vitamina D no sangue das pessoas com NF1. Para isso, devemos utilizar dietas adequadas, banhos de sol e, se não forem suficientes, suplementação medicamentosa supervisionada por profissionais da saúde.
Ver em nossas páginas mais informações sobre a dieta, banhos de sol e suplementação de Vitamina D.
Dr Lor

A AMANF tem a satisfação de compartilhar uma ótima iniciativa da médica Maria Carolina Melo Feitosa, que tem sido nossa companheira de lutas há vários anos, e da fisioterapeuta Renata Araújo.
Vejam o convite que elas fazem:
“Alguém em Alagoas conhece ou tem uma criança com Neurofibromatose (NF)?
Por aqui, estamos sentindo falta de conhecer outras famílias e crianças que também convivem com a NF — para trocar experiências, compartilhar vivências e criar uma rede de apoio.
A ideia é formar um grupinho acolhedor, onde possamos conversar, aprender juntos e promover momentos de convivência entre as crianças.
Se você conhece alguém ou tem uma criança com NF que resida em Alagoas, me chama no direct!
@carolina_feitosa
Ou clique aqui
Vai ser muito importante para a gente se aproximar e fortalecer essa caminhada juntos.
Compartilhe este post para que chegue a mais famílias e possamos ampliar nossa rede de apoio!
Abraço
Maria Carolina Melo Feitosa
Renata Araújo”

Um estudo científico bem conduzido na Austrália pelo grupo da Dra. Kathryn N. North avaliou o comportamento de crianças e adolescentes com neurofibromatose do tipo 1 (NF1), transtorno no espectro do autismo (TEA) e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). (Ver aqui artigo completo em inglês) .
As equipes do CRNF e da AMANF estão preparando um texto explicativo sobre os resultados do estudo e sua aplicação prática em nossa vida. Em breve ele estará disponível em nossa página, mas quero adiantar que o estudo observou que as crianças e adolescentes com NF1, TEA e TDAH apresentam em comum comportamentos causados pelo transtorno do processamento sensorial (TPS).
O Transtorno de Processamento Sensorial são as dificuldades de uma criança para processar os diferentes estímulos que vêm do ambiente e da sociedade de forma a se comportar adequadamente naquela situação.
O que é o processamento sensorial?
O processamento sensorial é a capacidade do sistema nervoso de detectar, integrar, modular e interpretar todas as informações captadas pelos diversos sensores que foram ativados pelos estímulos que nos chegam do ambiente e do nosso próprio corpo. As informações sensoriais processadas no sistema nervoso central, que permitem nossa adaptação ao ambiente, são:
A integração de todas estas informações sensoriais é que nos permite reagir adequadamente às variações internas e do ambiente. Elas são utilizadas pelo sistema nervoso para que possamos perceber de forma contínua o nosso próprio corpo num determinado ambiente físico, assim como os indicadores e regras sociais para que nosso comportamento seja adequado a cada momento em cada grupo de pessoas ou sociedade.
Em breve daremos mais informações sobre este transtorno e como podemos melhorar as pessoas com NF1 e TPS.
Dr Lor
A Associação Mineira de Apoio às Pessoas com Neurofibromatoses (AMANF) foi criada em 2002, a partir da iniciativa da família de André Bueno Belo, nosso primeiro presidente, e de outras famílias com pessoas com neurofibromatoses (NF), residentes em Belo Horizonte e outras cidades de Minas Gerais.

As informações médicas sobre as Neurofibromatoses neste blog são da responsabilidade do Dr. Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues, Coordenador Clínico do Centro de Referência em Neurofibromatoses do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, criado pelo Professor Nilton Alves de Rezende em 2004.
As informações fornecidas neste blog devem servir de orientação geral e jamais substituem a consulta realizada por um (a) médico(a) com experiência no diagnóstico e tratamento das neurofibromatoses.
Será omitida a identidade de todas as pessoas que realizam as perguntas, mesmo que elas não se importem com isso.
Imagens somente serão publicadas se forem absolutamente necessárias para o interesse coletivo e, caso sejam fotos de pessoas, não poderão permitir a identificação da pessoa fotografada.
Escreva aqui a sua pergunta e informe onde reside para facilitar minha resposta. Obrigado.